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“November Man”, de Roger Donaldson

November Man – Um Espião Nunca Morre (The November Man – 2014)
Um genérico de espionagem eficiente, com uma estrutura
convencional defendida por um ator que se mostra disposto a provar que foi
retirado do jogo cedo demais. E é exatamente essa consciente metalinguagem que
se torna o ponto alto do projeto, com Pierce Brosnan, que comprou os direitos
da obra assim que foi dispensado, disposto a exorcizar os anos que perdeu com
comédias românticas tolas, após ser colocado para escanteio pelos produtores da
franquia 007. A vitalidade dele surpreende nas cenas de ação, mas também é
possível perceber que ele repete várias características de sua versão de Bond,
amalgamando-as ao amargor da abordagem do escritor Bill Granger, cuja série de
livros sobre o personagem está mais para as confusas reviravoltas de John le
Carré, do que para a ingenuidade pulp adolescente de Ian Fleming. A trama é
consideravelmente fiel à essência do livro “There are no Spies”, o sétimo da
série, atualizando a tecnologia oitentista para uma realidade de drones.

O diretor Roger Donaldson, que costuma trabalhar bem com estruturas narrativas
simples, com a ação constante desviando a atenção do espectador para os
problemas do roteiro, demonstra pouca segurança ao lidar com as necessárias
quebras de ritmo em um projeto que pede atenção aos detalhes, potencializando a
previsibilidade das reviravoltas, sinalizadas com antecedência até pelos menos
atentos. É uma pena que o antagonista, um elemento promissor por simbolizar na
trama o conflito entre gerações e métodos diferentes, além do fator psicológico
do embate entre mestre e aprendiz, seja interpretado de forma apática pelo
australiano Luke Bracey, que não consegue impor em cena as qualidades que
deveríamos crer que o seu personagem domina.

Sem estofo nesse embate, com uma ameaça pálida, sobra apenas para o carisma
inegável de Brosnan e a beleza hipnótica de Olga Kurylenko, cuja personagem só
ganha alguma importância, além de cumprir a fórmula da “donzela em perigo”, no
terceiro ato. A primeira meia-hora entrega um equilíbrio agradável entre os
usuais tiroteios e resoluções Deus ex machina, mas a tensão diminui no segundo
ato. Não há problema algum com a previsibilidade, contanto que seja eficiente e
entretenha por aquele par de horas. Os últimos vinte minutos recuperam um pouco
daquela pegada brutal do início, fazendo esse possível início de franquia soar
bastante interessante.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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