Apesar de ser muito querido pelos fãs dedicados da franquia 007, no que me incluo, George Lazenby é usualmente ignorado por grande parte do público. E, nesse caso, a culpa é toda dele. Ele é um perfeito exemplo de como se é possível jogar no lixo uma carreira, mesmo quando o artista recebe as melhores oportunidades. O próprio assume seus erros, maldizendo sua imaturidade no passado. E, exatamente por essa atitude corajosa, ele merece essa homenagem.

Como um vendedor de carros usados, o jovem australiano chamou a atenção de um agenciador de modelos. Sem nenhuma experiência artística, não tinha feito sequer uma aula de teatro, após conhecer de passagem o produtor Cubby Broccoli numa barbearia, ele, com a arrogância típica da juventude, colocou na cabeça que iria tentar a chance como o novo 007, já que Sean Connery não queria mais interpretar o agente secreto que o mundo inteiro conhece pelo nome completo. Imagine você, a empáfia do sujeito, quando se olhou no espelho numa manhã, com apenas um sonho louco na mente, e percebeu que seus longos cabelos não iriam ajudar em seu objetivo.

O jovem então cortou seu cabelo exatamente como o de Connery, gastando boa parte da verba acumulada com seus trabalhos de modelo nessa reformulação, comprando um relógio Rolex e um elegante terno mais próximo do estilo de James Bond. Com a ajuda de alguns contatos, descobriu o edifício onde os produtores estavam realizando os testes
para o elenco. Ele sabia que não poderia ficar na fila de atores esperançosos, já que não tinha currículo algum, nem formação profissional.

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Lazenby resolveu o problema simplesmente com a cara e a coragem, atravessando a passos largos a sala de espera e adentrando, sem pedir licença à secretária, no escritório dos produtores. Escondendo bem o nervosismo, ele disse aos assustados homens engravatados que o encaravam: “Soube que vocês estão procurando o novo James Bond”. Quando perguntado sobre sua experiência, o jovem disse apenas que já havia trabalhado em produções ao redor do mundo, o que dificultaria o processo de pesquisa. A segurança do garoto era exatamente o que eles procuravam.

Quando já estava com o papel assegurado, ele contou a verdade aos produtores, que devem ter pensado: Se esse garoto é bom o bastante para enganar a gente, ele é bom o bastante para substituir Connery. Em outra audição, o jovem acidentalmente esmurrou o coordenador de cenas de ação, um exímio lutador profissional, arregalando ainda mais os olhos esperançosos dos engravatados. Assinado o contrato, ele seria o único ator a protagonizar apenas uma produção na franquia, o excelente “007 – À Serviço Secreto de sua Majestade”, de 1969.

Antes mesmo do filme ser lançado, ele já estava demonstrando insatisfação nas entrevistas de divulgação, novamente com seus longos cabelos e barba, simbolizando possivelmente a rebeldia interna do adulto imaturo que deu mais trabalho nos sets de filmagem que uma criança. Sua reação assustava todos, inclusive sua experiente Bond Girl Diana Rigg, que testemunhou muitos dos ataques de estrelismo do rapaz.

Como as suas vontades não estavam sendo atendidas, Lazenby começou então a renegar o personagem, dizendo que o mundo da fantasia não mais o interessava. Ele teve a chance de ser um astro querido e respeitado no mundo todo, fazendo parte de uma família artística de poucos privilegiados, mas jogou no lixo um contrato para mais seis produções. Décadas depois, já esquecido, estava sendo coadjuvante de luxo nos filmes da série “Emmanuelle”.

Hoje em dia, consciente de seus erros, ele é um dos mais frequentes participantes de qualquer homenagem que seja realizada para a franquia, sempre falando com muito carinho da experiência e do personagem.

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Viva você também este sonho...

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