Críticas

A força de caráter em “Gladiador”, de Ridley Scott, na NETFLIX

Gladiador (Gladiator – 2000)

Nos dias finais do reinado de Marcus Aurelius (Richard Harris), o imperador desperta a ira de seu filho Commodus (Joaquin Phoenix) ao tornar pública sua predileção em deixar o trono para Maximus (Russell Crowe), o comandante do exército romano. Sedento pelo poder, Commodus elimina seu pai, assume a coroa e ordena o fim de Maximus, que consegue fugir e passa a se esconder sob a identidade de um escravo e gladiador do Império Romano.

Inspirado no livro “Those About to Die”, do jornalista Daniel P. Mannix, com roteiro de David Franzoni e William Nicholson, com retoques de John Logan, este épico atraiu a atenção do diretor Ridley Scott, que se interessou principalmente pelo cenário da Roma antiga e a mensagem transmitida na incrível jornada do protagonista, Maximus Decimus Meridius, o general que corajosamente desafiou um império corrompido, papel responsável por comprovar para o mundo o talento do neozelandês Russell Crowe.

A produção foi tumultuada, o ator se mostrou incomodado com diálogos pouco sutis, logo, o texto foi sendo refinado durante as filmagens, alguns momentos que se tornaram icônicos foram completamente improvisados, e, para piorar, o veterano Oliver Reed, que vive o mentor do herói, faleceu por ataque cardíaco antes de terminar sua participação, forçando os produtores à utilização de um dublê digital crível em algumas cenas importantes, procedimento que custou uma pequena fortuna.

“O que fazemos em vida ecoa por toda a eternidade.”

Um dos trunfos pouco lembrados do filme é a forma estilizada com que a fotografia de John Mathieson trabalha as sequências de batalha, emulando os efeitos stop motion de “O Resgate do Soldado Ryan”, realçando a bravura dos homens diante do perigo extremo.

Ao abraçar um subgênero à época esquecido pela indústria, Scott traçou um caminho arriscado, evitando a pompa e o espetáculo dos peplum (espada e sandália) tradicionais, optando por uma inspiração direta mais intimista e psicologicamente rica, “A Queda do Império Romano” (1964), de Anthony Mann, com Sophia Loren e Stephen Boyd, que fracassou nas bilheterias em seu tempo exatamente por seu tom excessivamente sóbrio. A narrativa de vingança, tema sempre empolgante, que remete estruturalmente ao clássico “Ben-Hur”, estabelecida com segurança nos primeiros atos, explode em ação nos momentos certos, provocando a catarse emocional necessária no público.

A figura patética de Commodus (Phoenix) representa o invejoso incompetente que encontra justificativa para qualquer absurdo, inclusive o patricídio, covarde e traiçoeiro, vê à distância seus peões sujarem as mãos em seu nome, já que literalmente treme diante da presença imponente de um indivíduo com caráter.

Não demora para que o espectador torça por sua derrocada, enquanto acompanha a ascensão do escravo injustiçado na arena de gladiadores, que logo conquista o respeito de seus semelhantes e a admiração do povo, em suma, tudo o que o inseguro que tomou o trono sem mérito mais deseja. O momento arrepiante em que o guerreiro finalmente se revela, retirando lentamente seu elmo e encarando friamente seu algoz, enquanto afirma que terá sua vingança, nesta vida ou na próxima, entrou de forma merecida para a história da sétima arte pela sua força simbólica.

A obra segue emocionante em revisão, sobreviveu muito bem ao teste do tempo e merece ser revisitada nos tempos sombrios em que vivemos.

Cotação:

Trilha sonora composta por Hans Zimmer e Lisa Gerrard:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

View Comments

  • Já vi inúmeras vezes e verei outras c certeza.
    A cena inicial já me bastava.
    Joaquim Fênix fantástico.
    Já é um clássico!

  • Uma das cenas que eu mais gosto é quando Decimus ordena que os legionários embainhem as espadas e deixa o imperador se virar sozinho.

Recent Posts

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

14 horas ago

Sétima Arte em Cenas – “O Último dos Moicanos”, de Michael Mann

O Último dos Moicanos (The Last of The Mohicans - 1992) No século 18, em…

1 dia ago

“Star Trek Continues” (2013-2017), de Vic Mignogna

Você, como eu, ama a série clássica de "Jornada nas Estrelas"? E, como qualquer pessoa…

3 dias ago

O inesquecível “Doutor Jivago”, de David Lean

Doutor Jivago (Doctor Zhivago - 1965) Dr. Yuri Jivago (Omar Sharif) é um médico e…

3 dias ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

6 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago