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“Você Não Me Pega, Papai”, de Daniel Wolfe

Você Não Me Pega, Papai (Catch Me Daddy – 2014)

É promissora a estreia do britânico Daniel Wolfe em longas, ajudado
no roteiro pelo irmão Matthew, com uma pegada que remete aos trabalhos de Sam
Peckinpah, surpreendendo pela tranquilidade com que estabelece a trama
aparentemente simples que envolve um casal em fuga, mas que aliada à fotografia
de Robbie Ryan, ganha ares de um sombrio conto de fadas. Laila, vivida com
competência pela estreante Sameena Jabeen Ahmed, é uma adolescente paquistanesa
que decide ir contra seu pai repressivo, fugindo com seu namorado escocês
Aaron, vivido por Conor McCarron, para uma idílica vida nas montanhas a base de
lisérgicos.

É louvável a crença do roteiro na inteligência de seu público, já que limita os
diálogos expositivos ao mínimo, com destaque para uma excelente montagem que
combina uma cena de dança do casal, desfrutando daquela ilusória paz, com a
aproximação de seus perseguidores. Vale destacar a forma como o filme trabalha
a ideia da tradicional “morte honrada” muçulmana, solução buscada pela família
da garota, aliada à gradual e sutil evolução de Aaron, que é mostrado cada vez mais
adotando o senso de controle machista, refletindo exatamente o marido que ele
poderia ser no futuro, não muito diferente dos radicalismos do pai da jovem.
Até mesmo os brutais caçadores, como o vivido por Gary Lewis, ainda que
monstruosos, não são escritos como caricaturas, tornando-se fascinantes, ao
invés da via fácil que os tornaria repulsivos.

O terceiro ato tem falhas toleráveis, certo desequilíbrio entre a necessária
resolução dos arcos narrativos e um desejo de também satisfazer em seu desfecho
como produto do gênero thriller, mas são problemas compreensíveis, afinal,
felizmente, Wolfe arrisca bastante. Fiquei curioso para acompanhar o diretor em
seu próximo projeto, torcendo para que ele se mantenha com a mesma ousadia.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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