Críticas

“O Inventor da Mocidade”, de Howard Hawks

O Inventor da Mocidade (Monkey Business – 1952)

Barnaby Fulton (Cary Grant), casado com Edwina (Ginger Rogers), é um cientista obcecado em descobrir uma fórmula do rejuvenescimento. O projeto é acompanhado com atenção por Oliver Oxley (Charles Coburn), seu chefe, que prevê lucros imensos caso o produto funcione. Barnaby realiza testes com alguns macacos que mantém em seu laboratório, sem sucesso. Um deles escapa de sua jaula e mistura aleatoriamente os químicos da bancada, jogando a fórmula no bebedouro local. 

O filme é deliciosamente bobo desde os créditos iniciais, com um apressadinho Cary Grant, mas a sua mensagem é extremamente simples e inteligente. O segredo para uma vida feliz é encontrar o equilíbrio saudável entre a alegria descuidada da juventude e a lucidez responsável que a rotina adulta pede, leitmotiv que é trabalhado visualmente no contraste entre os trajes festivos da esposa na primeira cena (extremamente formal, sem deixar pele à mostra) e na última (leve, provocante).

Barnaby (Grant) dedica seus dias ao aprimoramento da fórmula do rejuvenescimento, porém, como o roteiro, escrito por Ben Hecht, Charles Lederer, I.A.L. Diamond e Harry Segall, evidencia rapidamente, este elemento absurdo/fantástico é utilizado como uma metáfora para a busca interna dele pelas glórias do passado, aquele embelezamento ilusório da nostalgia.

Insatisfeito, desnorteado, ele vai precisar viver vergonhosas situações como cobaia de seu experimento e, principalmente, como testemunha ocular das patetices de sua esposa (Rogers, tendo a chance de repetir os maneirismos infantis que utilizou em “A Incrível Suzana”, de Billy Wilder), para chegar à conclusão de que ser jovem não é tão bom assim.

Ao lado da jovem secretária, vivida por Marilyn Monroe, ele, de cabelo cortado e com um carro novo “envenenado”, vai comprovar que, ao contrário do que os saudosistas defendem com uma visão romantizada, a adolescência é uma fase patética de profunda insegurança. Os efeitos são facilmente esquecidos após uma soneca, como o bêbado que não consegue lembrar o vexame que causou horas antes.

Analisando a obra no contexto da época em que foi lançada, pouco antes do fenômeno do rock’n’roll dominar o mundo e fazer a cabeça da garotada, Hawks apresenta uma alternativa corajosa e menos infantilizada para o conceito da eterna juventude como antídoto para o medo de envelhecer, algo mais comportamental do que estético.

Cotação: 

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Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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