Amor à Flor da Pele (Hua Yang De Nian Hua – 2000)
Na sonolenta Hong Kong de 1962, a Sra. Chan (Maggie Cheung) e o Sr. Chow (Tony Leung Chiu-way), um jornalista, mudam-se para apartamentos vizinhos no mesmo dia. Seus encontros são formais e educados – até que uma descoberta sobre seus respectivos cônjuges cria um vínculo íntimo entre eles.
O cinema do chinês Wong Kar-Wai é complicado para seus elencos, já que a experiência de filmagem é puramente sensorial, instintiva, ele não transmite aos atores o histórico dos personagens, suas motivações, o trabalho dele é pegar o material bruto ao final e decidir, no processo de edição, o tom, a proposta e até mesmo a trama básica da obra, característica que fica evidente em “Amor à Flor da Pele”.
O filme foi literalmente transformado no último momento, de um produto mais vulgar e leve para algo elegante, austero, extremamente sutil e poético.
Cenas que transbordavam humanidade, com toques de humor, como a dança desajeitada no quarto e a união do casal na cozinha, preparando a refeição e, por conseguinte, explicitando a intimidade que caminhava em passos largos na relação, foram retiradas no corte oficial, o diretor entendeu em algum momento que os olhares perdidos, angustiados pela ausência do outro, bastariam para que o público universalmente se identificasse com a situação.
É uma jornada criativa mais estética, apesar de emotiva, em que os aspectos técnicos, como iluminação, posicionamento e movimentação da câmera, fotografia primorosa de Christopher Doyle, figurino e trilha sonora, acabam se sobrepondo à performance dos protagonistas, em suma, dizem mais do que as linhas de diálogo no roteiro.
O espectador insensível pode considerar o desenvolvimento entediante, mas é falha estrutural no receptor, provavelmente esperava um clichê mercadologicamente confortável.
A temática do amor impossível sacrificado foi trabalhada diversas vezes no cinema mundial, como em “Desencanto”, de David Lean, e “As Pontes de Madison”, de Clint Eastwood, logo, o elemento novo que Kar-Wai trouxe à mesa foi a forma de se contar a história, a atmosfera (por exemplo, utilização de câmera lenta, longos silêncios) de melancolia constante, uma dor praticamente tangível, auxiliada pela utilização na trilha de canções defendidas pela voz aveludada e calorosa de Nat King Cole em espanhol, principalmente “Quizás, Quizás, Quizás”, evocando a esperança do “talvez” romântico que se recusa a perecer diante da realidade.
O todo é maior que a soma de suas partes, mas destaco uma cena que considero brilhante em forma e execução, a mulher ensaiando com o vizinho o questionamento sobre a infidelidade do marido, um faz de conta aparentemente inofensivo que desperta nela inesperada tristeza.
Ela desaba emocionalmente, a delicadeza posada (representada na postura rígida, como se vivesse desconfortável em sua própria pele) se liquefaz enquanto o homem internamente compreende o peso da responsabilidade.
Vale ressaltar que, em nenhum momento, o filme mostra o rosto dos cônjuges secundários, incógnitas em todos os sentidos, evidenciando que o romance proibido não se trata de uma compensação afetiva ou vingança, apenas algo natural e profundamente humano.
Revisto para a preparação deste texto, “Amor à Flor da Pele” segue eficiente, o melhor filme na carreira do diretor Wong Kar-Wai.
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