Críticas

“Rua da Vergonha”, de Kenji Mizoguchi

Rua da Vergonha (Akasen Chitai – 1956)

Os dramas pessoais de mulheres da vida no pós-guerra.

Uma obra-prima crepuscular de um mestre que se manteve tematicamente coerente durante toda sua longa carreira no cinema. Para entender a importância de suas décadas dedicadas à crítica ferrenha da submissão da mulher na sociedade, motivada principalmente pela tristeza de ter visto sua irmã sendo vendida, basta analisar que, pouco depois da estreia desse filme, que foi peça fundamental nas discussões sobre a questão exatamente por não tentar romancear a vida degradante destas mulheres, foi votada uma lei que bania o serviço.

O foco do roteiro não é tanto a figura feminina exposta à humilhação, ainda que a narrativa seja guiada pelas desventuras de cinco mulheres da vida que lidam com o trabalho de formas bem diferentes, mas a função social que permite este tipo de tratamento. Mizoguchi novamente salienta a força de espírito das mulheres e evidencia a fraqueza dos personagens masculinos. Não é dada atenção à causa que as fez entrar para esta vida, o interesse está em evidenciar que, apesar delas nutrirem esperanças em longo prazo de mudanças positivas, o destino será inevitavelmente sombrio e decepcionante.

O final, mostrando uma jovem prestes a perder sua inocência na função, carne fresca que não compreende a dimensão do universo que está adentrando, cercada por possíveis clientes que caminham livremente, evidencia um ciclo injusto de poder e subjugação que não parece disposto a ser interrompido.

Meses depois da estreia, o diretor faleceu de leucemia, mas sua mensagem foi passada com louvor em seu conjunto de obra.

* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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