Críticas

Dica do DTC – “A Hipótese do Quadro Roubado”, de Raúl Ruiz

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

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A Hipótese do Quadro Roubado (L’hypothèse du Tableau Volé – 1978)

Dois narradores, um visto e outro invisível, discutem possíveis conexões entre uma série de pinturas. O narrador na tela percorre reproduções tridimensionais de cada pintura, apresentando pessoas reais, às vezes em movimento, na tentativa de explicar o significado da arte.

Este tesouro desconhecido no Brasil foi o primeiro trabalho de destaque na carreira de Jean Reno, um dos melhores filmes do saudoso cineasta chileno Raúl Ruiz, o mesmo do fascinante “O Tempo Redescoberto” (1999), adaptação da obra de Marcel Proust, e de uma joia que conheci anos atrás graças ao garimpo cultural na internet, a sensível minissérie franco-portuguesa “Manoel dans l’île des Merveilles” (1984), que você encontra hoje com facilidade no Youtube. Eu recomendo fortemente que você busque também estas pérolas.

Na sua estrutura, a obra se assemelha à proposta de “Verdades e Mentiras” (1973), de Orson Welles, mas ela parte de uma análise técnica da arte para explorar filosoficamente, utilizando como veículo um mistério surrealista, a importância da compreensão do simbolismo na formação da psique humana através dos tempos.

O roteiro desafia o espectador a raciocinar e refletir sobre a relação entre o objeto (quadro) e o receptor (público), entregando ao final uma engenhosa constatação: nós vamos sempre depositar nossas esperanças de entendimento pleno no elemento desconhecido e (graças a Deus) inalcançável. O sentido da vida é dependente do enigma insolúvel. Ao tentar solucionar, a arte e a existência, o indivíduo só pode esvaziar delas toda beleza.