Críticas

Dica do DTC – “Ajuste Final”, de Joel e Ethan Coen

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

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Ajuste Final (Miller’s Crossing – 1990)

Leo (Albert Finney) é um velho gangster irlandês e tem Tom Reagan (Gabriel Byrne) por seu braço-direito. Mas o império criminal começa a ruir ao descobrir que Tom está envolvido com a sua mulher (Marcia Gay Harden). Porém, ele vai tentar evitar uma guerra contra a gangue de Johnny Caspar (Jon Polito).

Quando você lê os clássicos policiais de Dashiell Hammett, Raymond Chandler e James M. Cain, percebe rapidamente que a essência de cada autor é bastante diferente, não apenas o estilo da escrita, algo que se perdeu nas celebradas adaptações de suas obras para o cinema na década de 40, o processo mental do detetive, os procedimentos da investigação, elementos que foram considerados uma gordura desnecessária na fórmula da Hollywood da época, substituídos por uma padronização estilizada (que viria a ser reconhecida como Noir), dando uma impressão equivocada de que era tudo a mesma coisa.

Os Irmãos Coen, conscientes desta realidade, como apreciadores da literatura pulp, decidiram focar neste material usualmente ignorado, “Ajuste Final”, apesar de ser uma história original, honra com excelência o legado destes grandes autores (sendo mais específico, há muito de “Safra Vermelha”, de Hammett, no conceito da trama), tendo no personagem vivido com a competência de sempre por Gabriel Byrne várias características de Sam Spade e Philip Marlowe.

O filme explora com afiada ironia a inerente corrupção das instituições, a frágil teatralidade, o caos da natureza humana, deixando o público mais atento em dúvida sobre a postura do protagonista até o último segundo, uma atitude serpentina que é personificada na figura de Bernie, vivido brilhantemente por John Turturro.