Críticas

O hilário “Os Eternos Desconhecidos”, de Mario Monicelli

Os Eternos Desconhecidos (I Soliti Ignoti – 1958)

“Roubar é uma profissão séria. Faz-se preciso pessoas sérias e comprometidas, não tipos como você. No máximo, você conseguiria trabalhar.”

O diretor italiano Mario Monicelli iniciou comandando comédias de Totó, trabalhando em conjunto com Stefano Vanzina, mas foi com “Os Eternos Desconhecidos” que seu nome realmente tornou-se respeitado além dos limites de seu país.

Aproveitando-se do retumbante sucesso mundial do filme francês “Rififi” (dirigido por Jules Dassin em 1955, sobre uma arriscada tentativa de roubo, perpetrada por quatro criminosos em uma joalheria), que anos depois também inspiraria “Onze Homens e um Segredo” (“Oceans Eleven”, de 1960, com Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr.), o italiano reuniu Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Renato Salvatori, Memmo Carotenuto, Tiberio Murgia e Carlo Pisacane, formando o grupo de ladrões menos competentes de sua região (um deles chega a se apaixonar por uma jovem que iria ser vítima de seus atos), liderados por Totó.

A ideia em si não era completamente original, já que o diretor Alexander Mackendrick havia trabalhado conceito similar em seu “The Ladykillers” (1955), com Peter Sellers e Alec Guinness, mas Monicelli foi mais corajoso e entregou uma obra que, vista hoje, não se mostra datada. Além de tudo, ainda apresentou a beleza de Claudia Cardinale ao mundo. Precisa dizer mais?

A quantidade expressiva de gags visuais eficientes, como a breve cena em que um dos criminosos adentra uma casa de penhores, munindo uma pistola encoberta parcialmente por um jornal (não irei revelar o hilário desfecho), concedeu ao filme um apelo universal. O primeiro ato estabelece o ritmo com leveza e esporádico humor, podendo dar a impressão de que sua fama é pouco merecida, mas o roteiro encaminha de forma inteligente cada personagem ao seu destino nos hilariantes 30 minutos finais.

Estruturalmente muitas comédias modernas buscam piadas em cada cena, pois o público-alvo hoje são os adolescentes imediatistas, o que acaba invariavelmente cansando o espectador ou esvaziando a obra como um todo, você ri o filme inteiro e esquece toda a trama dois minutos depois.

As comédias clássicas normalmente visavam o público adulto, por esta razão, administravam seu tempo com mais habilidade, assim como tocavam em temas que falavam diretamente às angustias dos adultos, como nesta obra, em que Monicelli critica a condição trabalhista da época na Itália.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “27 Noites”, de Daniel Hendler

27 Noites (27 Noches - 2025) Uma mulher (Marilú Marini) é internada em uma clínica…

2 dias ago

Dica do DTC – “O Verão de Picasso”, de Robert Sallin

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago

Teste: Qual filme você identifica primeiro na imagem?

Hoje em dia está na moda nas redes sociais estes desafios lúdicos, logo, decidi entrar…

5 dias ago

Dica do DTC – “Sherlock Holmes – O Mistério do Forte Vermelho”

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

7 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago