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A importância da informação no consumo cultural

Como sempre tento fazer, analiso um evento absurdo tentando
extrair dele uma reflexão mais profunda. Acho que é a melhor forma de lidar com
a quantidade incrível de tolices diárias, entender o macro pelo micro,
encontrar nele um sintoma para a doença maior, na esperança de instigar no
leitor a busca pela imunidade. Todos devem se lembrar do caso das pessoas que
foram avisadas pelos funcionários dos cinemas sobre o teor homossexual no filme
nacional “Praia do Futuro”. Essa situação rima com o caso similar da
empresa brasileira que se recusou a produzir o Blu-ray do premiado “Azul é
a Cor Mais Quente”, exatamente pelos mesmos motivos.

Eu poderia conduzir o texto pelo viés óbvio da imaturidade
emocional e ignorância científica do adulto brasileiro que se incomoda com
cenas de sexo homossexual em um filme para adultos, mas seria dar murro em
ponta de faca. A nossa educação é uma das piores no mundo, nossos adultos, na
época, estavam tentando completar o álbum de figurinhas da Copa, horas naquelas
filas imensas nas bancas de jornais. Não será um texto que irá modificar
qualquer coisa nesse sentido. Mas é válido apontar um viés mais sutil nesse
caso, o total desinteresse pela informação cultural. A dona de casa que vai ao
Shopping Center, chegando perto da sala de cinema e sendo guiada pela beleza
dos pôsteres. Ela não tem costume de ler jornal, gasta seu tempo virtual em
futilidades, preocupada mais em manter suas unhas bonitas, já que não precisa
exercitar seu cérebro nas noitadas caóticas dos bares e boates. Com a mesma
apatia que exibe ao escolher o tipo de hambúrguer padronizado que irá pedir na
lanchonete, ela passa os olhos rapidamente pelo elenco dos filmes que estão
sendo exibidos.”Nossa, o Capitão Nascimento está no filme, não posso
perder!”.

Sim, não é exagero, grande parte das pessoas pensa dessa
forma. Compram ingresso sem terem lido nenhuma resenha/crítica. Até para
comprar tomates na feira, essas pessoas se informam antes. Não valorizam a
informação ao consumirem cultura, pois a veem como item supérfluo, menos
importante que os cosméticos que utilizam. Acho que todos se lembram do caso
clássico do político que esbravejou publicamente após levar seu filho menor
para assistir “Ted”, aquele do ursinho politicamente incorreto.
Enquanto a cultura for consumida cegamente apenas comofast-food,
tapa-buraco e simples passatempo, nós iremos dividir sessões com toques ininterruptos
de celulares, conversas animadas sobre parentes exóticos de estranhos e pessoas
alienadas que decidem sair no meio do filme por motivos tolos.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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