Críticas

“Seis Mulheres Para o Assassino”, de Mario Bava

Seis Mulheres Para o Assassino (Sei donne per l’assassino – 1964)

Isabella, uma jovem modelo, é assassinada por uma misteriosa figura mascarada numa Casa de Moda, pertencente à Condessa Cristiana. Quando o namorado de Isabela se torna suspeito do assassinato, o diário da vítima, contendo informações que relacionem a jovem ao assassino, desaparece.

É interessante constatar uma das possíveis inspirações para o detetivesco Rorschach, de “Watchmen”, no assassino sem rosto dessa ótima incursão de Mario Bava no giallo, subgênero que ele havia criado, dois anos antes, com “A Garota Que Sabia Demais”, também conhecido como “Olhos Diabólicos”.

A ausência de expressão, a teatralidade das luvas de couro pretas, a frieza na execução de seus atos, uma composição fiel ao espírito daquelas obras policiais psicologicamente despretensiosas, livrinhos de bolso de apelo imediatista, não exatamente de capas amarelas como a dos italianos, que comprávamos com trocados nas bancas de jornal. O triste é pensar que, apesar da beleza experimental inserida em cada frame do projeto, muitos críticos ainda encontrem argumentos para o menosprezo com o gênero, aplaudindo outros, tão criativos quanto, como o noir.

O trabalho com cores, sempre um atrativo especial nas obras do diretor, vive aqui um momento de glória, sendo impossível destacar apenas uma, dentre as várias sequências que poderiam facilmente ser emolduradas.

Adicionando uma boa dose de sadismo ao tempero de sua tentativa anterior, além de um bom MacGuffin na figura do diário que incrimina praticamente todos os personagens, o roteiro utiliza os crimes como desculpa para o diretor pensar esteticamente sua coreografia do medo, conseguindo transmitir visualmente, com ajuda da atmosfera estabelecida pela iluminação, cenas que potencializam a dança da morte, fazendo com que esqueçamos, enquanto público, o desinteresse aparente em firmar as motivações por trás das ações dos personagens, característica que se tornaria usual nos slashers americanos, que, sem o estímulo visual inteligente e refinado do realizador italiano, não passavam de tola diversão inofensiva.

Como ocorria com Kubrick, por exemplo, a câmera de Bava transformava uma trama simples em um material interessante em diversas camadas.

* O filme está sendo lançado numa versão restaurada em DVD, pela distribuidora “Versátil”, na caixa “Giallo”, que conta também com: “Tenebre”, “O Estranho Vício da Sra. Wardh” e “O Segredo do Bosque dos Sonhos”, além de vários documentários muito interessantes.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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