Críticas

“A Garota do Adeus”, de Herbert Ross

A Garota do Adeus (The Goodbye Girl – 1977)

Esse encantador filme do diretor Herbert Ross me remete a uma tarde chuvosa perdida na década de oitenta. O interessante é que eu só havia visto uma vez, quando criança, mas, revendo hoje pra escrever esse texto, percebi o impacto que ele me causou na época. Todas as cenas foram voltando na memória.

Que roteiro incrível do Neil Simon, com um repertório generoso daqueles diálogos brilhantes que só ele consegue escrever, inserindo ternura na comédia, fugindo dos clichês dos romances modernos ao criar personagens estruturalmente falhos, adoráveis em suas características mais esquisitas.

Richard Dreyfuss vive o ator dedicado e desempregado que se angustia ao perceber que está inserido em uma peça comandada por um egocêntrico, um diretor que pensa seus projetos exóticos visando agradar apenas a própria mãe. Ele medita diariamente e troca medicamentos por alguns minutos terapêuticos de paz ao violão.

O destino faz com que ele se veja forçado a dividir apartamento com uma bela e hostil ex-dançarina, vivida por Marsha Mason. A razão da hostilidade: Ela e sua pequena filha haviam acabado de ser abandonadas por um ator, trocadas por uma oportunidade de emprego em um filme. E, ao que tudo indica, ela já passou por esse trauma outras vezes.

É apaixonante a forma como o roteiro desenvolve a relação entre Dreyfuss e a criança, vivida por Quinn Cummings, que já havia começado a adotar inconscientemente o sistema de defesa da mãe. Apaixonada por cinema, sempre acompanhada de revistas sobre os artistas de Hollywood, a menina demonstra ser mais emocionalmente madura que os dois adultos.

Quando o personagem de Dreyfuss, que verdadeiramente ama e se identifica com a pequena, percebe que precisa reconquistar o carinho dela, ele não pensa duas vezes, descola uma carruagem e, utilizando-se do imaginário cinematográfico que permeia os sonhos da criança, vai buscar ela no colégio como se estivesse inserido em um romance clássico, chega até a citar Tara, a residência de “E o Vento Levou”. E, num toque bonito, ele repete esse imaginário com a mãe dela, emulando Bogart em um elegante jantar à luz de velas no telhado.

O tema que envolve o lindo desfecho fala diretamente ao medo que pode abortar relacionamentos potencialmente transformadores. A protagonista trata o novo namorado mal por medo de sofrer novamente. Ele acaba levando a culpa por erros de desconhecidos. Em dado momento, inesperado para os dois, uma proposta de emprego faz com que ele precise ficar algumas semanas fora. Ela então irá receber a maior lição de sua vida: Nunca generalizar, nivelando por baixo.

Ao desativar sua autodefesa emocional, ela descobriu o grande caráter que estava ao seu lado o tempo todo. E o homem, finalmente, encontrou uma companheira que escuta seu desabafo e segura firme sua mão, enquanto o mundo parece desabar à sua volta.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Classicline”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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