Críticas

Os 2 melhores filmes do diretor espanhol Jess Franco

Eu já começo afirmando que “melhores”, no caso de Jess Franco, representa os “menos ruins”. Ele pode ter uma legião de fãs no meio underground, mas os seus filmes são intensamente problemáticos.

Jovem, após ser expulso da faculdade de cinema, decidiu desbravar sozinho o terreno criativo, dirigiu comédias e musicais de baixíssimo orçamento. Tentou produzir algo engajado politicamente, a adaptação do livro “La Rebelión de los Colgados”, de B. Traven, mas bateu de frente com a ditadura e precisou abortar a missão. Durante uma sessão despretensiosa de um clássico de terror gótico da Hammer, ele teve uma grande ideia, utilizar o terror como veículo para conseguir transmitir qualquer mensagem. A pena é que, por demanda do mercado, ele passou boa parte de sua carreira apostando em tramas rasas de terror com generosas doses de erotismo, material inferior às pornochanchadas brasileiras mais fracas.

Se você quer conhecer o estilo de Jesús Franco Manera, eu recomendo as duas obras abaixo. A primeira, o melhor momento dele em sua fase inicial mais “convencional”. A segunda, ponto alto de sua incursão pelo sexploitation.

O Diabólico Doutor Z (Miss Muerte – 1966)

Cientista que faz experiências revolucionárias envolvendo o cérebro humano morre de infarto fulminante após ser humilhado por um grupo de médicos num congresso de neurologia. Sua filha (Mabel Karr) resolve se vingar deles, usando como “arma” uma sensual dançarina de unhas longas e envenenadas – que ela converteu em escrava graças às experiências do pai.

Com “Miss Muerte”, seu terceiro projeto no gênero, fruto do improviso obrigatório diante da censura, Franco mostrou que tinha um estilo próprio, auxiliado pelo grande Jean-Claude Carrière no roteiro, com referências ao “Os Olhos sem Rosto” (de Franju) e levemente “copiando” alguns elementos do livro “A Noiva Estava de Preto” (que ganharia versão oficial alguns anos depois, comandada por Truffaut). É, de certa forma, uma expansão dos conceitos trabalhados nos anteriores, com a inserção de ousadias surrealistas.

A história começa insinuando que o assassino fugitivo terá papel de destaque, as cenas enfatizam sua periculosidade, mas logo o espectador percebe que “Psicose” fez escola, duas surpresas logo nos primeiros dez minutos. O assassino é apenas um peão nas mãos da mente ardilosa da filha do clássico cientista maluco, inversão bacana, que fica ainda mais interessante quando a jovem forja sua morte, para que possa livremente operar sua vingança.

O diretor aproveita para atuar como alívio cômico, vivendo um investigador que passa o tempo todo sonolento, impossibilitado de dormir porque sua esposa deu à luz a trigêmeos. A exótica sequência de dança moderna com a Miss Muerte no palco inspiraria anos depois a performance artística de Soledad Miranda com um manequim em “Vampyros Lesbos”. E, finalizando, destaco a acertada opção de “final aberto”, toque muito inteligente e que eleva a qualidade do filme.

Vampyros Lesbos (1971)

A Condesa Oskudar (Soledad Miranda) atrai vítimas femininas para uma ilha remota, para curti-las, amá-las e matá-las eventualmente. Mas ela comete o erro de se apaixonar por sua última vítima, a bela Linda Westinghouse (Ewa Strömberg). Uma versão lésbica do livro “Drácula”, de Bram Stoker.

O período entregou muitas produções com vampiras seminuas, a “Trilogia Karnstein” da Hammer foi o ponto alto. Franco, por outro lado, consciente de que não tinha como competir, esbanjou seu trunfo, a belíssima Soledad Miranda, vivendo a mulher que encantou o próprio Conde Drácula. Com poucos diálogos, o filme acerta na direção de arte, subvertendo as expectativas, ao invés dos castelos sombrios e da neve, Franco ambienta partes de sua história em uma praia ensolarada. Sim, o sol nesta versão não traz ameaça alguma aos vampiros.

O senso de humor apurado encontra seu ápice na sequência em que Linda, frustrada sexualmente com seu parceiro, busca a ajuda psiquiátrica de um profissional que passa o tempo todo fazendo desenhos infantis em seu bloco de notas. Ao final, ele dá a solução: “Arrume um amante”.  É uma grande bobagem que em alguns momentos consegue divertir.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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