Críticas

“Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky

Como Nossos Pais (2017)

Rosa (Maria Ribeiro) é uma mulher que almeja a perfeição como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Filha de intelectuais e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente.

Laís Bodanzky será sempre lembrada pelo ótimo “Bicho de Sete Cabeças”, mas com “Como Nossos Pais” ela chega perto de alcançar o mesmo nível de qualidade. Infelizmente, o roteiro dá a nítida impressão de ter sido retrabalhado em algum momento posterior para satisfazer tópicos politiqueiros/panfletários, surpreendendo pelo contraste entre a abordagem de certos temas com extrema delicadeza e sensibilidade, contra várias outras sequências absurdamente didáticas, populistas no pior sentido, esfregando na cara do espectador discursos “lacradores” frágeis e que não se sustentam sem o exercício questionável da dissonância cognitiva.

A trama que tinha tudo para ser profundamente humana e emocionalmente autêntica, após o primeiro ato se torna engessada, fria e, difícil de negar, oportunista, culminando em um terceiro ato arrastado, repetitivo e, com exceção de uma única cena envolvendo a mãe de Rosa e um piano, desprovido de genuína emoção. Se o filme transborda ternura, por exemplo, nos flashbacks da protagonista na infância com seu pai (Jorge Mautner), ele se torna incrivelmente bobo/pedestre quando força a barra ao inserir (sem função na narrativa) o pai biológico (Herson Capri) no cenário político nacional, ou em cenas como a do artifício dramático raso que envolve o ato falho de Rosa ao confundir as palavras “fantoche” e “fantasmas”, ao se referir ao pai em conversa com a filha.

A atuação de Maria Ribeiro é prejudicada exatamente por este desequilíbrio tonal, algo que a reduz em pouco tempo à caricatura irritante da pobre menina rica. Até mesmo a sua subtrama romântica com o pai de uma colega de escola da filha, elemento que tinha potencial, acaba se perdendo no segundo ato. Pedro (Felipe Rocha), sem desenvolvimento algum, parece um stalker assustador de filme B de suspense da década de 90, o roteiro faz ele brotar convenientemente nas situações mais bizarras, pedindo que o público simpatize com a relação pouco crível alicerçada em diálogos escritos por um robô que está aprendendo a lidar com os sentimentos humanos. É complicado.

“Como Nossos Pais” tinha muito potencial como cinema, mas preferiu o prazo de validade curto ao abraçar a cartilha política.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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