Pavor nos Bastidores (Stage Fright – 1950)
Eve (Jane Wyman) resolve ajudar o amigo Jonathan (Richard Todd), acusado de eliminar o marido da amante, a atriz Charlotte (Marlene Dietrich). Para isso, ela se infiltra na vida da atriz como governanta, tentando provar que Charlotte é a verdadeira responsável pelo crime.
O próprio Hitchcock considerava um erro o conceito do flashback falso que ele inseriu no primeiro ato de “Pavor nos Bastidores”, mas não é justo com a obra diminuir sua relevância por seus questionáveis equívocos, ainda mais quando os méritos são tão instigantes. E esta opção pode até ser defendida metaforicamente dentro do contexto temático.
Este filme, diferente de muitos na filmografia do mestre do suspense, não se preocupa tanto com a investigação sobre o crime cometido, ou com a figura do criminoso, não é um thriller convencional, o que está em foco nele é o fascínio da teatralidade, logo, o ato de enganar o espectador faz parte do jogo. Perceba como este elemento é utilizado no terceiro ato (o desfecho da cena na festa de caridade envolvendo uma boneca) com a mesma função de uma sequência de ação em qualquer outro projeto similar do próprio diretor. É, de certa forma, uma minimalista declaração de amor às artes cênicas. Não é coincidência que os créditos iniciais sejam emoldurados pela abertura da cortina de segurança do teatro.
A ideia de ter uma protagonista (Wyman, de aparência frágil, tímida e doce) que sonha em ser reconhecida como atriz, sendo forçada pelo destino a iniciar informalmente a carreira adotando duas identidades falsas na tentativa de solucionar o mistério que envolve seu namorado, já seria suficientemente interessante, mas é complementada pela atividade profissional da principal suspeita (Dietrich, exalando segurança e arrogância, como quando chama a sua funcionária nova de diversos nomes, evidenciando que não se importa com aquela que considera inferior), uma respeitada artista completa, que canta e atua com perfeição.
Há sangue, pistas erradas e um encantador alívio cômico na figura do pai da jovem, apaixonado por literatura detetivesca (Alastair Sim) e incentivador inconsequente da aventura da filha, mas são detalhes narrativamente pouco importantes. Tudo se encaminha para o grande momento próximo do desfecho, quando ocorre um embate lúdico entre as duas atrizes, a amadora e a veterana, sem violência, sem truques de câmera. A tensão nasce da dúvida: será que a jovem inexperiente conseguirá enganar a mulher que vive de interpretar papéis, que vive de fazer nos palcos a mentira soar o mais real possível? E, sem revelar muito, vale destacar que ela terá ainda um desafio mais perigoso neste sentido antes do fim.
É um filme menor de Hitchcock? Sim, mas um filme menor dele consegue ser, ainda hoje, muito superior às bobagens usualmente incensadas na indústria.
Cotação:
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