Belíssima (Bellissima – 1951)
Madalena Cecconi (Anna Magnani) faz de tudo para que sua filha, a pequena Maria (Tina Apicella), torne-se estrela de cinema. Assim, acaba levando a menina para disputar um concurso que apontará a protagonista do filme de um famoso cineasta. É o início de uma série de desilusões.
Esta rara incursão tragicômica do grande diretor Luchino Visconti foi generosamente beijada pelo tempo, segue atual (talvez mais do que em sua época), trabalhando o tema da projeção artística ilusória (fama pela fama) como extravasamento de frustrações existenciais. A inspiração nasceu de uma experiência prévia do cineasta com um grupo de mães desesperadas que tentavam colocar seus filhos pequenos nos seus projetos, por vezes, claramente contra a vontade das próprias crianças.
Visconti inteligentemente utiliza a ópera “O Elixir do Amor” (L’Elisir d’Amore), de Gaetano Donizetti, como fundo musical de vários momentos importantes, salientando a fantasia do cinema como o elixir mágico na rotina empobrecida do pós-guerra. A menina Maria, pura e naturalmente desajeitada no processo seletivo, contrasta terrivelmente com as coleguinhas de olhos vazios e gestos robotizados, acompanhadas de suas orgulhosas mães. Enquanto a turba se pisoteava para alcançar o palco, ela fugiu dos braços de Madalena para brincar na rua.
A reação da brilhante Magnani (que teve liberdade para improvisar o roteiro inteiro) ao ver que uma das concorrentes fez aulas de balé é impagável, a estranheza que sente ao ver o rodopio patético e milimetricamente calculado da pequena, o sorriso forçado, cenas simples e executadas com afinado senso de humor. É comum que se despreze “Belíssima”, equivocadamente comparando esta pérola do neorrealismo italiano com as produções elegantes posteriores do diretor, como “O Leopardo”, mas é pura preguiça de quem enxerga arte como muleta intelectual e quer posar de entendido, não se compara maçãs com bananas, amar cinema é compreender a beleza única de cada proposta.
O terceiro ato é profundamente triste, Visconti insinua a resolução ao emoldurar em tom irônico o rosto da pequena com a ária “Quanto È Bella, Quanto È Cara!”, Maria é comum, como toda criança, não foi produzida artificialmente, logo, o impacto emocional é potencializado quando a mãe finalmente descobre que a pequena estava sendo humilhada pelos executivos. As lágrimas no rosto da mulher quebram a alma do espectador, a consciência plena de que foi responsável. E reconhecer o erro é o primeiro passo na direção correta.
A linda cena final injeta amarga esperança, a menina dorme, sonha, o rostinho sereno, a vida é uma estrada desconhecida à sua frente, a maldade dos adultos é o obstáculo que ela terá que vencer.
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