Críticas

Crítica de “Minari – Em Busca da Felicidade”, de Lee Isaac Chung

Minari – Em Busca da Felicidade (Minari – 2020)

Uma família coreano-americana se muda para uma fazenda no Arkansas em busca de seu próprio sonho americano. Em meio aos desafios dessa nova vida, eles descobrem a inegável resiliência da família e o que realmente faz um lar.

É comum que no período da premiação cinematográfica mais conhecida o público em geral se interesse pelos indicados, mas, infelizmente, já faz algum tempo que o Oscar não serve como parâmetro de qualidade, movido cada vez mais por lobby e politicagem, algo que tento sempre transmitir ao meu público. Aliás, neste ritmo, logo terá menos credibilidade que o “Globo de Ouro”, que, pelo menos, garante uma festa da firma mais divertida.

Neste ano, como já era de se esperar, a engrenagem do jogo está mais descarada que nunca, mas, entre vários títulos que atendem as pautas óbvias, há pérolas que possuem real potencial, como esta nova produção da A24, roteirizada/dirigida por Lee Isaac Chung, uma sensível história semiautobiográfica.

O maior problema é a desnecessariamente longa duração para uma trama tão simples, opção que torna alguns segmentos inegavelmente arrastados, prejudicando a imersão emocional do público, mas o coração está no lugar certo, captado lindamente na trilha sonora de Emile Mosseri, leves toques de humor ajudam, como na cena que aborda a estranheza do pequeno David (Alan Kim, ponto alto da obra) com a chegada da avó (Youn Yuh-jung), focando no constrangimento de sua mãe (Han Ye-ri).

O leitmotiv é estabelecido logo no início, no momento em que o pai (Steven Yeun) conversa com o filho próximo ao incinerador que sacrificava os galos na fábrica em que trabalham, explicando ao pequeno, curioso sobre as cinzas expelidas, que cada homem precisa encontrar um lugar no mundo em que seja útil. Viver não é suficiente, o indivíduo precisa produzir, plantar e colher.

A mensagem se perde um pouco no excesso estético da utilização da câmera lenta da fotografia de Lachlan Milne, contemplativa, recurso clichê que não combina com a proposta minimalista que remete à Ozu; o que nos conduz sensorialmente é a identificação com os personagens, vínculo que não necessita de floreios, os rostos expressivos bastam, como fica provado nos momentos menos pretensiosos de interação familiar.

Há uma metáfora bonita envolvendo a frágil saúde do menino, que sofre de sopro no coração, mas é desenvolvida com tanta sutileza, que pode passar despercebida. Ao mesmo tempo em que ele vai estreitando os laços de afeto com sua avó (simbolizando o contato com a cultura coreana), sua condição vai melhorando (alegoricamente preenchendo seu coração com o amor por suas raízes). A subtrama é responsável pela sequência mais emocionalmente recompensadora, ainda que, de forma coerente com o todo, aposte na negação do drama.

“Minari – Em Busca da Felicidade” não é um filme transformador, nem a obra-prima que a equipe de marketing está vendendo, mas é honesto na forma como trata a dificuldade de se assentar e crescer num novo país, pela perspectiva da família imigrante.

Cotação:

  • O filme estreia hoje em algumas salas de cinema, ainda não há previsão de lançamento em plataformas digitais.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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