Críticas

“Deixem-nos Viver”, de Arthur Penn

Deixem-nos Viver (Alice’s Restaurant – 1969)

Inspirando-se livremente na música “Alice’s Restaurant”, de Arlo Guthrie, um clássico da contracultura dos anos 60, Penn cria um dos retratos definitivos da cultura hippie no cinema.

O policial exigiu que ele entregasse o cinto, antes de ser preso, para evitar que ele se enforcasse na cela. Mas quem iria se enforcar por ter despejado lixo em local proibido? E depois ele cumpriu seu dever no alistamento militar para a Guerra do Vietnã, pulando junto com o psiquiatra do exército aos repetidos berros de: “Eu quero matar!” Dois trechos da canção de Arlo Guthrie que considero brilhantes em sua crítica.

O filme, protagonizado pelo próprio Arlo, se torna ainda mais fascinante para aqueles que já conhecem a história da música, um tesouro que precisava ser resgatado, já que continua eficiente e, até ouso dizer, narrativamente é mais impactante hoje. Penn conhecia o músico e não se sentia confortável em tomar parte na produção, mas encontrou o viés emocional que buscava no bem-humorado trecho final da canção: “Você pode conseguir tudo o que quiser no restaurante da Alice, menos a própria Alice.”

O foco do roteiro é um tema que o diretor prezava mais do que martelar os horrores da guerra, a cultura que estava sendo alimentada pelos jovens norte-americanos como uma fuga lúdica de todas as convenções ditadas por seus pais, representada na família formada por Arlo, Alice e seus amigos, a simbólica ceia que eles compartilham na igreja abandonada. O despejo do lixo, crime que impediu o alistamento, a hipocrisia inerente ao militarismo e sua cultura de padronização, destruindo o indivíduo.

Os temas são abordados de forma leve, coerente à ideologia hippie, culminando em um desfecho poderoso em sua opressiva “paz”. Alice, solitária na porta da igreja, vestida de noiva, reconhece internamente que o frágil sonho está fadado a acabar.

* O filme não está nas plataformas de streaming, mas você encontra em DVD e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

O inesquecível “Doutor Jivago”, de David Lean

Doutor Jivago (Doctor Zhivago - 1965) Dr. Yuri Jivago (Omar Sharif) é um médico e…

5 horas ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

3 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

4 dias ago

FILMAÇOS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

4 dias ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Dica do DTC – “Os Fuzileiros de Sharpe”, com SEAN BEAN

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

1 semana ago