Interrompemos a Programação (Prime Time – 2021)
Na véspera do Ano Novo de 1999, um homem (Bartosz Bielenia) armado invade um estúdio de TV, faz reféns e tem só uma exigência: transmitir uma mensagem ao vivo.
“- Quem você pensa que é?
– Alguém que não gosta de ser manipulado.”
É importante deixar algo bem claro antes de qualquer coisa, já que, nos tempos atuais, o processo de infantilização dos adultos avançou tanto, que, sem exagero, até o filme mais simples precisa vir com “manual de instruções”. Sim, na era dos youtubers “explicando o final”, pode ser muito arriscado depender da capacidade cognitiva do espectador.
Afirmo isto porque, analisando a recepção negativa desta pérola pelo público nas redes sociais, constato que os argumentos partem de uma percepção completamente equivocada da proposta da obra, logo, não considero spoiler avisar que o filme não é sobre O QUE o rapaz quer transmitir diante das câmeras, mas sim, sobre algo muito mais profundo, algo que remete em espírito aos trabalhos do grande Sidney Lumet, especificamente “Rede de Intrigas” e “Um Dia de Cão”. A atitude do protagonista é apenas o veículo utilizado no roteiro, vale ressaltar, promissora estreia em longas do polonês Jakub Piatek, para suscitar reflexões corajosas sobre o papel do telejornalismo como ferramenta de manipulação social.
Há uma cena brilhante que evidencia esta abordagem inteligente, mas, infelizmente, pode passar despercebida por aqueles que, entre uma checada e outra na tela do celular, acostumados ao entretenimento raso, estão preocupados apenas em descobrir o motivo que levou o jovem à invadir o estúdio de TV. Angustiada com a apatia de seus superiores, a âncora refém, Mira (Magdalena Poplawska), uma pessoa mimada que visivelmente não aceita ser contrariada no dia a dia, que trata a equipe técnica e seus colegas como seres inferiores, tira da manga uma carta inesperada, ela liga para um contato na emissora concorrente, oferecendo a transmissão exclusiva do monólogo do rapaz. Ela sabe como o jogo é jogado.
A reação dos executivos é imediata, após várias horas de pura enrolação (como não querem perturbar a programação, abandonam os reféns à própria sorte), eles correm para viabilizar aquele momento. O ponto que mudou o comportamento não foi a preocupação com o fator humano, apenas a gananciosa preocupação de perder para a concorrência aquele show que, com certeza, atrairia audiência (direta e indiretamente).
É um resumo perfeito do modus operandi da imprensa, o espetáculo, ainda que grotesco, vale mais do que qualquer coisa. Não há preocupação alguma com o bem estar do povo, muito pelo contrário, o sistema depende do coletivo adestrado, não há ética, o negócio é sujo. Basta analisar o experimento de engenharia social em escala global que o mundo vive atualmente, sem o auxílio do telejornalismo, o medo ilógico jamais teria anulado o raciocínio da massa.
Só pela coragem de tocar neste espinhoso tema, o filme já merece aplausos, mas, além da substância, ele se destaca também pela forma, aproveitando com excelência o espaço cênico reduzido (neste ponto, remete novamente à Lumet, “12 Homens e Uma Sentença”), estabelecendo tensão palpável em sua curta duração.
“Interrompemos a Programação” é, desde já, um dos melhores filmes do ano.
Cotação:
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