Críticas

Crítica de “Arremessando Alto”, de Jeremiah Zagar, na NETFLIX

Arremessando Alto (Hustle – 2022)

Stanley (Adam Sandler), um olheiro de basquete azarado, encontra um jogador (Juancho Hernangómez) com um grande potencial e se esforça para mostrar ao mundo que os dois merecem chegar à NBA.

O subgênero de drama esportivo é complicado, nem sempre o apelo da trama é universal, mas, quando realizado com inteligência, compreendendo o tema como metáfora para a superação de dificuldades comuns na vida de todos, ele entrega pérolas como “Rocky”, “Glória e Derrota”, “Campo dos Sonhos” e “Carruagens de Fogo”.

Jeremiah Zagar, que já havia demonstrado competência no minimalista “Os Animais Somos Nós” (2018), consegue, com “Arremessando Alto”, entrar com segurança nesta seleta lista, favorecido pela força do elenco, capitaneado por um inspirado Adam Sandler, visivelmente apaixonado pelo universo que está homenageando, assinando uma bela carta de amor que vai encantar os já iniciados e, ponto importante, provavelmente despertará o fascínio naqueles que nunca tiveram interesse em basquete.

Sandler já havia provado sua versatilidade no excelente “Joias Brutas” (2020), mas ele galgou novos degraus desta feita, compondo uma figura internamente arrasada pela culpa, elemento que se descortina no segundo ato. A sua dor é transmitida no olhar, enquanto luta para seguir acreditando na possibilidade de redenção, apesar da ponte que o sustenta estar se desfazendo dia após dia. A preocupação da esposa, Teresa (Queen Latifah), o natural distanciamento da filha adolescente, Alex (Jordan Hull), pontos que intensificam o desconforto existencial.

O falecimento do dono do time, Rex Merrick (Robert Duvall), o único homem que acreditava plenamente em seu trabalho, abala tremendamente sua confiança, problema que se agiganta quando descobre que seu destino profissional agora está nas mãos do filho dele, Vince (Ben Foster), invejoso, pequeno, espírito de porco, que vai aproveitar o elevado status conquistado sem mérito para humilhar aquele talento real que, ao que parece, sempre o incomodou, até pelo carinho sincero que o pai nutria por ele.

O roteiro, de Taylor Materne e Will Fetters, trabalha muito bem o leitmotiv da obsessão como atitude que define o sucesso em qualquer empreendimento, mais do que sorte ou talento, utilizando, como forma de sublinhar esta proposta, uma esperta referência direta ao já citado “Rocky”, o conceito de alcançar o topo da escadaria no treinamento do atleta, em suma, ganha aquele que quer mais, aquele que está com mais fome, sangue nos olhos, o indivíduo que, mesmo tendo apenas um barco furado e sem remos, não desiste por cansaço, já que enxerga a vitória como algo mais do que sinalização pública de superioridade, como o personagem de Sandler repete em vários momentos, a batalha é contra o reflexo no espelho, o rival mais perigoso é sempre você mesmo.

A execução é ágil, com ótima utilização de alívios cômicos, fazendo com que a previsibilidade da história, longe de ser um obstáculo narrativo, atue no sentido de alimentar a expectativa no público para a catarse emocional no desfecho.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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