Críticas

Crítica de “Spiderhead”, de Joseph Kosinski, na NETFLIX

Spiderhead (2022)

Em uma penitenciária de última geração, um detento (Miles Teller) participa de um experimento com drogas que controlam as emoções para um gênio (Chris Hemsworth) da indústria farmacêutica.

O diretor Joseph Kosinski, de “Top Gun: Maverick”, comanda a adaptação do conto “Escape from Spiderhead“, de George Saunders, originalmente publicado em 2010, com roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick. O timing não poderia ser melhor, o tema do experimento comportamental suscita reflexões preciosas para quem gosta de enxergar a arte além da superfície.

Aqueles que permaneceram lúcidos nos últimos dois anos perceberão nos diálogos várias mensagens diretas e corajosas, aliás, considero curioso, a massa não estranha a quantidade absurda de projetos recentes que apresentam como vilão a indústria farmacêutica, com personagens intensamente antiéticos brincando de deuses, manipulando o coletivo pelo medo ilógico e fundamentado em pura mentira, objetivando controle social, em suma, a ciência sendo conscientemente desvirtuada e utilizada para o mal. Não é coincidência que todas as obras que defendem este viés estejam sendo apedrejadas pela imprensa, o sistema e seus tentáculos buscam desesperadamente silenciar o alarme do relógio despertador.

O conceito de trabalhar a construção artificial de emoções, algo já evidenciado na cena inicial, acaba se refletindo inteligentemente no tom da obra, que insere ótimos alívios cômicos, sem prejudicar o crescente de tensão, agregando camadas no conflito entre o detento Jeff (Teller) e a figura de autoridade da penitenciária.

Steve (Hemsworth) sempre reforça para os subjugados como é maravilhoso aquele ambiente, sem barras, sem celas, sem uniformes, ele, por óbvio interesse próprio, valoriza aqueles que abriram mão dos vários riscos de uma prisão comum pela ilusória sensação de conforto daquele local, ainda que o preço para as cobaias seja a utilização constante de um dispositivo, conectado cirurgicamente em suas costas, que administra dosagens de drogas que alteram a mente. A alegoria é clara, remetendo à frase de Benjamin Franklin: “aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança.”

Vale destacar também um diálogo, breve e brilhante, que ressalta o absurdo de se estimular no coletivo a compreensão de que pessoas nascidas em épocas específicas agem de forma padronizada, induzindo a garotada da nova geração a humilhar os chamados “Millennials”, estratégia torpe que reduz o complexo comportamento humano ao terreno da pseudociência simplória, algo que serve apenas à agenda imediatista dos titereiros do caos.

No tempo de nossos pais e avós, ensinava-se o respeito total aos ensinamentos dos mais velhos, hoje, o lema é queimar o passado, obedecer sem questionar, já que é mais difícil controlar um grupo existencialmente firme. O resultado desta engenharia social? No futuro próximo, caso a imprensa venda que é mais saudável se alimentar de insetos, a massa adestrada correrá para a fila sem pensar duas vezes. A aceitação de qualquer loucura será imediata caso as vítimas a enxerguem como um gesto virtuoso.

“Spiderhead” é um thriller sci-fi engenhoso, entretenimento acima da média no atual momento da indústria.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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