Críticas

Crítica de “O Pacto”, de Guy Ritchie, na AMAZON PRIME

O Pacto (The Covenant – 2023)

Durante a guerra no Afeganistão, um intérprete arrisca sua vida para carregar um sargento ferido por quilômetros de terreno hostil em busca de um local seguro.

“O Pacto” apresenta um Guy Ritchie artisticamente maduro e inteligentemente mais contido, focado em explorar a tensão natural que a trama fornece, sem firulas de estilo, levando a sério o material, subvertendo as expectativas do público a cada cena. O trabalho é alicerçado na competência dos protagonistas, Jake Gyllenhaal e Dar Salim. A mudança na abordagem do roteirista/diretor britânico aprimorou seu talento.

A pegada intensamente realista é perceptível até mesmo na forma como os militares se expressam durante as missões, opção que é favorecida pelo escopo reduzido, já que o roteiro não intenciona propor discussões políticas, o que acompanhamos é a perigosa rotina diária dos peões no tabuleiro, uma luta por sobrevivência. Este elemento caótico é potencializado com a utilização generosa de drones na fotografia de Ed Wild.

O terceiro ato entrega uma reviravolta emocionalmente impactante, mostrando o calvário burocrático que o sargento psicologicamente abalado enfrenta para desfazer a tremenda injustiça sofrida por seu intérprete. A transição tonal é realizada magistralmente, não é algo fácil, nas mãos de um realizador medíocre poderia abrir caminho para uma chuva de clichês, mas Ritchie se supera.

Uma história que honra os sacrifícios em tempo de guerra, sobre os laços que são forjados em batalhas por homens valorosos, honrados, íntegros, e, ousando ir além, uma crítica dura aos pactos quebrados entre o governo norte-americano e os intérpretes/tradutores afegãos, que, após os serviços prestados, acabaram se tornando alvos de represálias do Talibã.

Há ainda espaço para um deboche muito sutil direcionado à teatralidade por trás das guerras, como quando, logo no início, letreiros com os nomes e os apelidos dos soldados aparecem rapidamente na tela, ferramenta estética classicamente utilizada como forma de impor seriedade, sinalizando que aquelas figuras são importantes, e, trinta minutos depois, elas se tornam insignificantes no desenvolvimento narrativo.

Uma obra que entretém plenamente enquanto filme de guerra, com muita ação e suspense, mas que também surpreende pela complexidade das questões que levanta, sem necessidade de discursos pomposos e vazios.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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