Críticas

“Seduzida e Abandonada”, de Pietro Germi

Seduzida e Abandonada (Sedotta e Abbandonata– 1964)

“O homem tem o direito de pedir, mas a mulher tem a obrigação de recusar.”

A popular comédia italiana da década de 60, inspirava-se nas obras americanas de Howard Hawks, Delbert Mann, Richard Quine e outros, que com humor tratavam da batalha dos gêneros (como os protagonizados por Rock Hudson e Doris Day) com uma pimenta a mais, caso comparados aos projetos similares das décadas anteriores.

Os italianos adicionaram um forte tempero e se ampararam no intenso carisma de seus artistas, resultando em obras como “Matrimônio à Italiana” e “Ontem, Hoje e Amanhã” (ambos com Sophia Loren e Marcello Mastroianni). O filme que abordo neste texto existe em um contexto um pouco diferente, um amadurecimento do conceito, em que os temas eram tratados com o mesmo humor, mas com certo cinismo.

Assim como “Divórcio à Italiana”, faz-se preciso que o espectador moderno tenha em mente três aspectos sobre a sociedade italiana da época, para compreender plenamente a obra e entender a crítica do diretor:1) A impossibilidade de um casal se divorciar legalmente, 2) A importância dada à honra de uma família, que deveria ser protegida da maneira que fosse possível, 3) Legalmente, um abusador poderia ser absolvido caso casasse com sua vítima. A bela Stefania Sandrelli (aconselhada por Germi a atuar como se estivesse em um filme mudo) vive a adolescente Agnese, que submete sua família à humilhação moral, ao entregar-se à luxúria (palavra que rende uma das cenas mais engraçadas) com o noivo de sua irmã.

Dentre os vários elementos de crítica que Pietro Germi inclui, vale ressaltar a presença do “barão” (vivido por Leopoldo Trieste) falido e suicida, que é manipulado pelo pai da jovem, para noivar com a rejeitada irmã. Mais preocupado em saciar sua fome, o pobre e desdentado homem adia então a utilização de sua corda, que deixa balançando presa ao teto de sua sala sem mobílias.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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