Cobra Kai – Primeira Temporada (2018)
A minha relação com “Karatê Kid” é antiga, passional, intensa, afinal, eu vivi na pele a dor física e psicológica do bullying escolar durante boa parte da infância e adolescência. Eu era o magricela esquisito de óculos que odiava futebol e só sabia conversar sobre coisas antigas. Ao chegar em casa, após uma manhã turbulenta, jogava a mochila no sofá e inseria o VHS do filme original no aparelho.
Aquela fita representava a esperança encapsulada, uma alternativa positiva para os conflitos diários, por algumas horas eu acreditava que era Daniel LaRusso (Ralph Macchio), a emoção transbordava, os ensinamentos do Sr. Miyagi (Pat Morita) traziam paz, respeitando conceitos de honra e justiça.
Inspirado especificamente em “Karatê Kid 3 – O Desafio Final”, comecei a praticar artes marciais, inicialmente na Academia Rômulo Arantes (RJ), até que, vários anos depois, agreguei os movimentos do Ninjutsu aos tradicionais Katas. E nunca imaginei que algum dia seria levado a simpatizar com a técnica do dojo Cobra Kai, composto por indivíduos, até então, desprovidos de alma, personagens unidimensionais, coerentes no contexto maniqueísta do entretenimento da década de oitenta.
O mundo mudou muito, o momento atual na indústria clama por tons de cinza, todas as franquias de sucesso estão se adaptando à nova realidade, mas, devo dizer que nenhuma com tanta inteligência, espontaneidade e coragem quanto esta série original do YouTube Red, criada por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald. Os dois primeiros episódios foram disponibilizados gratuitamente, os outros oito você pode adquirir por um valor irrisório, investimento com satisfação garantida.
Sem revelar muito sobre a trama, preservando as várias surpresas, vale destacar que reencontramos Daniel e Johnny Lawrence (William Zabka) em um ponto crucial de suas vidas. O bicampeão do torneio utilizou sua fama para erguer um império automobilístico, mas a rotina de casado, com dois filhos adolescentes, acabou afastando o empresário dos rituais de treino, o dinheiro trouxe a possibilidade de seus filhos escolherem ser populares na escola, logo, evitando o bullying, o cinismo e a ironia subjugando a ternura.
Ele se recorda com carinho de seu falecido mestre, mas, inconscientemente, parece ter perdido a fé na pureza ingênua de sua forma de lidar com os obstáculos do cotidiano. Na selva de pedra dominada pelo terrível politicamente correto, ele está se tornando o agressor, adotando métodos que estão mais próximos da crueldade de seus antigos algozes.
Johnny, por outro lado, sequer tentou se adaptar aos novos tempos. Ele é uma relíquia perdida em rota de colisão com o mundo. Aquele golpe da garça não fez ele perder apenas o torneio, o jovem do quimono branco levou também sua namorada, sua dignidade e o respeito de seu mestre. E, como ele próprio afirma, o rapaz fez tudo isto com um golpe ilegal. Afogado em dívidas, bebendo para esquecer as mágoas, com um filho adolescente rebelde e uma ex-esposa que o despreza, parece que o seu futuro é uma tragédia anunciada.
O caminho dos dois vai se cruzar, com o roteiro criando soluções inesperadas e brilhantes, com toques precisos de humor e reverência ao filme original, inserindo um núcleo adolescente carismático que gradualmente vai se mostrando tão interessante quanto os personagens clássicos.
O desfecho, apesar de apontar caminhos instigantes para a segunda temporada, satisfaz plenamente, os arcos narrativos são cuidadosamente trabalhados, invertendo papeis, subvertendo expectativas e brincando com os elementos que entraram para o imaginário coletivo da cultura popular. Há uma homenagem linda, verdadeiramente emocionante, honrando a figura de Miyagi, no quinto episódio.
Uma aula catártica de como tratar com respeito a nostalgia dos fãs. A série que ninguém esperava, acabou se tornando aquela que despertou maior interesse por sua continuação. O garoto que cresceu amando a trilogia original agradece com lágrimas nos olhos.
Cotação:
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