Críticas

O valor do material humano em “Amor Eletrônico”, de Walter Lang

Amor Eletrônico (Desk Set – 1957)

Emissora de TV decide automatizar suas atividades e contrata especialista que acaba entrando em choque com diretora do departamento de pesquisa. Spencer Tracy e Katharine Hepburn em comédia modernista e pioneira, mostrando os conflitos causados pelo computador há 60 anos.

A parceria entre Katharine Hepburn e Spencer Tracy encontra neste oitavo projeto o seu momento mais descontraído, pela primeira vez em glorioso Technicolor. Os dois se reencontrariam cinematograficamente dez anos depois, no drama “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, mas “Amor Eletrônico”, adaptada da peça de William Marchant (que não contava com o aspecto romântico entre os protagonistas, criado para o filme), foi a última comédia do casal.

Na trama, colegas do departamento de pesquisa se reúnem para enfrentar a novidade que coloca em risco seus empregos, o “cérebro eletrônico” EMERAC, inventado pelo personagem de Spencer Tracy, referência jocosa ao ENIAC, o primeiro computador do mundo. Capaz de fornecer informações em tempo muito menor, o sistema é citado pela protagonista como “assustador”, algo capaz de tornar os seres humanos uma raça dispensável. Toda a subtrama romântica envolvendo o raso personagem vivido por Gig Young é altamente desnecessária, algo que prejudica o ritmo no primeiro ato.

Quando a atenção se volta para a frustração profissional das mulheres e as tentativas desajeitadas do especialista em conquistar o apreço da líder delas, o filme se torna verdadeiramente encantador. Premonitório, abordou o que era considerado ficção científica, o medo com relação à entrada da informática nos locais de trabalho e a consequencial perda dos empregos, mas, no desfecho feliz, inseriu na equação o equilíbrio que acabaria ocorrendo no futuro.

O charme é, como não poderia deixar de ser, o embate intelectual entre Hepburn e Tracy, o jogo que se estabelece já no primeiro momento dos dois na tela, alcançando seu ápice no “piquenique” engendrado por ele no terraço aberto do edifício. Os diálogos afiados e a entrega cheia de ironia de Hepburn transformam algo aparentemente simples em material de refinado humor.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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