Críticas

Rebobinando o VHS – “Vidas Íntimas”, de Ralph Thomas

Vidas Íntimas (Upstairs And Downstairs – 1959)

As dificuldades de um jovem casal para conseguir uma empregada que não dê festas em sua ausência nem se embriague durante um jantar de negócios.

Esta produção crepuscular do conglomerado britânico The Rank Organization, dirigida por Ralph Thomas, ficou perdida nas prateleiras do tempo, lembrada eventualmente pelos cinéfilos mais dedicados por ter sido o primeiro grande trabalho da bela italiana Claudia Cardinale fora de seu país, apesar dos poucos minutos em cena, vivendo uma das empregadas desastrosas contratadas pelo casal Richard (Michael Craig) e Kate (Anne Heywood).

Tive acesso à obra recentemente em raro VHS nacional, da FJ Vídeo, e fiquei positivamente impressionado, o roteiro de Frank Harvey (que entregou no mesmo ano o excelente “I’m All Right, Jack”, com Peter Sellers) era bastante “pra frentex”, levando em consideração os similares do período. É curioso que ele foi eclipsado pela ascensão da “Nova Onda” britânica, que, assim como no Brasil (Cinema Novo), primou por jogar para baixo do tapete qualquer fita popular, desprezando seus méritos, enquanto mimava filmes quase sempre austeros e umbilicais que, ironia do destino, envelheceram mal.

O segmento protagonizado pela lindíssima francesa Mylène Demongeot, por exemplo, alterna drama honesto e humor, entregando um viés inesperado sobre o impacto das expectativas libertárias da juventude diante da realidade da vida, algo mais corajoso do que foi feito por boa parte dos cinemanovistas pseudointelectuais de lá.

Outro momento, protagonizado por um casal de idosos, aparentemente inofensivos, que aceitam o emprego apenas porque intencionam quebrar a parede e roubar o banco ao lado, ultrapassa os limites farsescos do nonsense, injetando uma crítica sobre o hipócrita jogo de aparências.

“Vidas Íntimas” pode ser encontrado garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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