Críticas

“A Morte Passou por Perto”, de Stanley Kubrick, no TELECINE

A Morte Passou por Perto (Killer’s Kiss – 1955)

O boxeador decadente Davey e a dançarina Gloria se conhecem e começam um romance, mas o relacionamento é interrompido pelo violento chefe da jovem, Vincent. O casal tenta fugir, mas Gloria é raptada por Vincent e seus capangas.

Em Nova York, um lutador de boxe conhece uma dançarina quando esta é atacada por seu patrão e amante. Este acontecimento acaba provocando o envolvimento dos dois, mas o amante preterido, dominado pelo ciúme e pelo ódio, manda eliminar seu rival. Entretanto, em virtude de um equívoco, os capangas eliminam o empresário do lutador. O casal, vendo que corre perigo, tenta deixar a cidade para sempre.

Também financiado na garra, com ajuda do dinheiro emprestado de um tio, esta segunda produção pode parecer convencional na superfície, menos ambiciosa em suas ideias que a anterior, mas um olhar atento encontra um jovem audacioso tentando deixar sua marca. A estrutura é a do noir, desconstruído ao optar por um final feliz, contado em flashback com utilização generosa de monólogos internos, cortesia de Sackler, emoldurando um triângulo amoroso aparentemente simples, entre um boxeador, uma mulher da vida e seu patrão. Kubrick substitui a alegoria de “Fear and Desire” por uma visão mais realista, quase patética, destes personagens inseridos em uma sociedade corrompida.

Em uma incrível sequência de boxe, dá para perceber a fonte em que Scorsese bebeu para o seu “Touro Indomável”, com uso de câmera na mão em ângulos expressionistas e priorizando o som da respiração dos lutadores. Mais adiante, numa criativa cena de sonho em que a câmera atravessa rapidamente uma rua, a imagem em negativo antecipa um recurso que o diretor utilizaria em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, na famosa sequência do túnel espacial. Mas nenhum momento deixa mais clara a audácia de Kubrick que o longo conflito final entre o boxeador e o patrão, testemunhado por vários manequins femininos em um depósito.

Na selvageria dos dois, chegam a utilizar aquelas bonecas como arma, uma interessante metáfora visual, eles lutam de forma inconsequente, até desajeitada, pelo domínio daquela passiva mulher-objeto.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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