Críticas

Crítica de “As Linhas Tortas de Deus”, de Oriol Paulo, na NETFLIX

As Linhas Tortas de Deus (Los renglones torcidos de Dios – 2022)

Alegando sofrer de paranoia, uma detetive (Bárbara Lennie) particular se interna em um hospital psiquiátrico para investigar a morte de um dos pacientes.

“Talvez a verdadeira loucura não seja senão a própria sabedoria que, cansada de descobrir as vergonhas do mundo, tomou a inteligente decisão de enlouquecer.” (Heinrich Heine)

Algo cada vez mais raro, assim que terminou a sessão, corri para caçar na internet o livro original, “Los renglones torcidos de Dios”, de Torcuato Luca de Tena. Não foi difícil, em questão de segundos encontrei para baixar gratuitamente em PDF, em espanhol. Devorei a obra em duas madrugadas.

Um ponto que considerei inteligente na adaptação, além da fidelidade total em letra e espírito às páginas, foi manter o espectador na dúvida do início ao fim, utilizando a edição, alternando linhas temporais, como elemento principal para confundir o espectador; no livro é diferente, já se estabelece no primeiro capítulo as motivações da protagonista, uma narradora nada confiável, logo, não há enigma, o epílogo apenas reforça a compreensão óbvia.

Ao expandir a proposta original do livro publicado em 1979, de expor as engrenagens dos manicômios, para uma reflexão sobre o conceito da verdade, utilizando como ferramentas as convenções do terror e do suspense, o filme enriquece a discussão psicológica.

A opção abre um fascinante leque de possibilidades criativas, estéticas e filosóficas, que são exploradas generosamente na direção do sempre competente Oriol Paulo, mestre das constantes reviravoltas narrativas, responsável por “Um Contratempo” (2016) e “Durante a Tormenta” (2018), descoberto pelos cinéfilos dedicados em 2010, com o roteiro de “Os Olhos de Júlia”.

Há uma adaptação anterior, lançada em 1983, protagonizada pela atriz e cantora mexicana Lucía Méndez, consegui baixar na internet, mas a estrutura é muito carregada da tinta forte das telenovelas da época, vale apenas como curiosidade.

O mérito maior é a entrega magistral da bela Bárbara Lennie, sem seu talento para conduzir o público pela mão no labirinto mental da personagem, o esforço coletivo poderia ser prejudicado.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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