Críticas

“O Pagamento Final”, de Brian De Palma

O Pagamento Final (Carlito’s Way – 1993)

Após sair da prisão, Carlito Brigante (Al Pacino) jura a si mesmo que nunca mais vai voltar a viver como no passado. A mudança de vida não é fácil, uma vez que ele precisa resistir a várias oportunidades e tentações para voltar a lidar com o submundo do crime. No entanto, ele encontra seu antigo amor, Gail (Penelope Ann Miller), que lhe mostra que a vida pode ser feliz.

Eu terminei a leitura de “O Pagamento Final” e corri para rever o filme que tenho na coleção em DVD, duas sessões em sequência, fiz questão de relembrar como a versão brasileira da Herbert Richers é impecável, capitaneada pelo querido amigo Ricardo Schnetzer.

A edição brasileira do livro, que você encontra com facilidade em sebos, inteligentemente reúne “Carlito’s Way” e “After Hours”, a primeira novela é intensa, você sente que está numa mesa de bar escutando o personagem contar sobre sua adolescência, mas é o segundo título que verdadeiramente foi adaptado no roteiro de David Koepp (aliás, que pena que ele não inseriu um dos momentos mais divertidos nas páginas, a aventura de Brigante em Portugal, conhecendo o universo da tauromaquia), brilhantemente dirigido pelo mestre Brian De Palma.

O cinema hoje em dia está tão ruim, mas tão pateticamente ruim, que é, sem exagero, uma experiência mágica entrar em contato com uma obra como esta, em que o importante na equação criativa é a história, sem grotescas agendas ideológicas e políticas, sem subserviência à patrulha woke, com total respeito pelo público e pelos talentos envolvidos na equipe. Será que os adultos psicologicamente maduros retomarão algum dia o controle da indústria? Há tempo para reverter os danos, antes que esta arte se torne algo irrelevante? Enquanto isto, não se submeta ao lixo que te oferecem, o (bom) futuro está no passado.

A escrita do juiz Edwin Torres nos dois livros é bastante crua, captando de forma muito eficiente o linguajar dos criminosos, você realmente compreende como funciona a mente do protagonista, inserido no caos urbano, com ameaças em cada esquina.

Al Pacino, que estava em momento especialmente inspirado, utiliza seu carisma para conquistar imediatamente a simpatia do público no tocante ao desejo sincero do personagem de abandonar o jogo. Ele é perigoso, o instinto entra em conflito constante com a razão, mas os cinco anos que perdeu na penitenciária serviram como lição, a beleza hipnotizante de Gail, vivida por Penelope Ann Miller, não poderia ser um estímulo melhor para este radical redirecionamento existencial.

A figura do seu advogado, Kleinfeld (Sean Penn), transmite tremenda fraqueza de personalidade, elemento devastador quando a índole é podre e existe a possibilidade de ganho de poder. O espectador percebe logo que a aproximação com ele trará eventualmente decepção, algo que, no meio em que transitam estes homens, significa pura violência.

O tom do filme equilibra muito bem a tensão inerente ao cenário que explora e um mordaz senso de humor, conduzindo aos catárticos quarenta minutos finais, em que o diretor exibe sua especialidade, construindo sequências em que o suspense atinge níveis arrepiantes, como aquela ambientada na estação de trem. Perceba a genialidade da obra, ela te revela nos primeiros minutos o desfecho trágico, mas, mesmo assim, consegue fazer com que você torça, roendo as unhas, para que Brigante consiga escapar de seu destino.

“O Pagamento Final” é, em muitos aspectos, superior à parceria anterior de Al Pacino com Brian De Palma, “Scarface”, mas costuma ser menos lembrado, uma injustiça que pretendo desfazer com este texto.

  • Você encontra o filme na plataforma Oldflix, na Amazon Prime (aluguel) e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME VIDEO

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

10 horas ago

ROMANCES encantadores na AMAZON PRIME VIDEO

Preparar listas é uma parte divertida do meu trabalho como crítico de cinema. Eu selecionei…

3 dias ago

“Tomates Verdes Fritos”, de Jon Avnet, na LOOKE

Tomates Verdes Fritos (Fried Green Tomatoes – 1991) Evelyn Couch (Kathy Bates) visita um parente…

3 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago

As 10 MELHORES trilhas sonoras na carreira do compositor BURT BACHARACH

O saudoso compositor norte-americano Burt Bacharach faz parte do panteão de deuses da composição musical…

1 semana ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME VIDEO

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago