Críticas

Crítica de “Monsieur Aznavour”, de Mehdi Idir e Grand Corps Malade

Monsieur Aznavour (2024)

De uma infância humilde como filho de refugiados à consagração como ícone mundial, Charles Aznavour superou todas as expectativas. Dono de uma voz considerada modesta, ele transformou adversidades em poesia, criando quase 1.200 canções em várias línguas e deixando um legado eterno. Íntimo, intenso e indestrutível, o filme celebra a trajetória de um artista que se tornou um símbolo imortal da música e da cultura francesa.

Eu costumo afirmar que nasci com oitenta anos, na infância e na adolescência eu só consumia arte produzida décadas antes do meu nascimento, o fascínio pela memória cultural e o fundamental elemento da curiosidade forjaram meu caráter.

A obra de Charles Aznavour fez parte deste período mágico da minha vida, não apenas o seu legado como compositor/cantor, como também a sua faceta como ator em pérolas como “Atirem no Pianista” (leia meu texto sobre ele clicando AQUI), de François Truffaut (leia minha entrevista exclusiva com a filha do diretor clicando AQUI), e “Os Libertinos” (leia meu texto sobre ele clicando AQUI), de Jean-Pierre Mocky.

No final da crítica, abaixo do trailer, fiz questão de inserir o link para uma antiga gravação minha cantando a linda “She”, a música mais famosa dele no Brasil.

A cinebiografia comandada pelo cineasta francês Mehdi Idir e pelo músico e poeta Grand Corps Malade é uma declaração de amor elegante e bem-humorada como o próprio homenageado, um esforço competente que se preocupa em satisfazer emocionalmente até mesmo aqueles que não conhecem a jornada do artista.

A escolha narrativa por abraçar todas as fases, ao invés de facilitadores recortes temporais, evidencia a preocupação em respeitar o legado, o público é apresentado ao menino pobre, Shahnour Vaghinagh Aznavourian, filho de imigrantes armênios que fugiram do Genocídio Armênio de 1915. Aliás, vale destacar, principalmente nos doentios dias de hoje, que ele lutou a vida inteira contra a negação do extermínio e contra o antissemitismo, a sua família chegou a esconder judeus em sua casa durante a ocupação alemã.

O longa é estruturado em capítulos, um ritmo positivamente frenético, fragmentado conscientemente em breves segmentos que são enriquecidos pelo carisma do protagonista, Tahar Rahim, do excelente “O Profeta” (2009). Ele entrega um trabalho excepcional, captando com delicadeza as fragilidades internas que sustentavam a persona que dominava os palcos.

Um toque muito inteligente do roteiro é explorar a persistência do jovem em seus primeiros passos na indústria, a percepção de cada obstáculo como preciosa oportunidade para o estudo, um traço de personalidade que é desafiado quando o sucesso se torna a realidade e a ambição profissional precisa ser disciplinada.

“Monsieur Aznavour”, só por ser um filme pensado para adultos psicologicamente maduros, algo cada vez mais raro, já merece aplausos de pé!

Cotação:

  • O filme está sendo lançado nesta semana nas salas de cinema brasileiras.

Trailer:

Gravação caseira despretensiosa que fiz em 2010 cantando a clássica “She”, uma singela homenagem ao saudoso mestre Aznavour:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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