Neste especial “Woody Allen”, começo sempre com um texto cômico, no estilo do homenageado, um dos meus ídolos nesta arte. 

Você caminha solitário(a) numa rua à noite, voltando de uma festa na casa de amigos, quando se depara com uma figura soturna envolta em um manto negro e segurando uma foice. Ela lentamente levanta o braço esquerdo e aponta o esquelético dedo para você, enquanto uma voz que parece saída das profundezas da Terra chama por seu nome.

Não existe dúvida em sua mente, era chegado seu momento de encontrar-se com o inescapável desconhecido, abandonar seu frágil invólucro e descobrir o maior mistério da vida. Segundos depois de seu primeiro passo na direção do ser espectral, você escuta o som de uma buzina e um forte frear de pneus, provenientes de um automóvel que atravessa em sua frente, lançando aquela estranha figura no ar e levando-a a cair a, mais ou menos, oito metros de distância.

Dividido entre o desejo compreensível de voltar correndo para casa e prestar primeiros socorros, já que o motorista fugiu da cena do crime, você acaba optando por uma terceira opção um tanto quanto cafona: impostando a voz, começa a cantar uma canção de Cole Porter, dançando em volta do espectro deitado no asfalto. Carros estacionam ao redor, enquanto seus motoristas abandonam seus veículos de forma coreografada, formando uma composição panorâmica que daria inveja à Busby Berkeley.

No exato momento em que uma senhora idosa aparece utilizando a foice como espada e afirmando ser da armada de Napoleão, você acorda. Durante o resto do dia você se questiona sobre o sentido da vida, sobre a existência de um Deus e sobre qual seria o próximo eliminado no reality show. Com certeza não pode ser a Sharon, porque ela venceu a prova do líder.

Caso o mundo fosse justo, aquele ignorante do Rodolfo deveria ir direto para a senzala. Sendo que, analisando bem, a discussão que ele teve com o pagodeiro Marquinhos Mutuco nasceu de uma fofoca daquela fútil da Alexxandra (com dois xis, aconselhada pela numeróloga), que já estava se engraçando com o Tião…

A ESPECTRAL MORTE, QUE FALECEU NO TRÁGICO ACIDENTE, GOSTARIA DE AVISAR QUE JÁ SE ENCONTROU COM DEUS E NÃO IRÁ RENOVAR SEU CONTRATO, POIS ESTÁ TERRIVELMENTE DECEPCIONADA COM O POUCO CASO DEDICADO AO SEU ÓBITO. O DIVINO ESTAVA ESTUDANDO PROPOSTAS DA FÊNIX GREGA,MUITO MAIS RESISTENTE, PORÉM, INFELIZMENTE NÃO SERÁ POSSÍVEL, POIS A MESMA ESTÁ SENDO PROCESSADA PELO BENNU EGÍPCIO POR PLÁGIO. VOCÊ QUE ACREDITA POSSUIR AS QUALIDADES INERENTES A UM BOM CEIFADOR, PODE ENVIAR SEU CURRÍCULO PARA: [email protected], COM
FOTO E SUAS MEDIDAS PARA O MANTO.

Qual seria o sentido da vida? Por que tudo que é bom nos faz mal? Como o Tião conseguiu vencer aquela prova da comida? Quantas fotos minhas olhando para o espelho eu posso colocar no Facebook, sem deixar claro que sou um egocêntrico doente? Será que se ingerirmos quarenta tabletes homeopáticos, corremos o risco de uma overdose? Como se sentiriam Tom Jobim e Taiguara, caso vivos estivessem, e percebessem que nossa música popular hoje em dia prima por estrofes simplórias e repetitivas, como “Tchu-Tchá”, “Tchê-Tchê” e similares? O mundo termina em 2012, ou essa é uma mentira tão infame quanto o aquecimento global e as promessas dos políticos?

A ESPECTRAL MORTE GOSTARIA DE AVISAR QUE ESTÁ PREPARANDO O LANÇAMENTO DE SEU PRIMEIRO LIVRO: “FOICE AFIADA”, EM QUE PROMETE REVELAÇÕES BOMBÁSTICAS SOBRE SEU EX-PATRÃO, INCLUSIVE UMA CONTROVERSA RELAÇÃO EMPRESARIAL ENTRE ELE E O EGÍPCIO RÁ, QUE RECLAMAVA UMA MELHOR ASSESSORIA DE IMPRENSA.

devotudoaocinema.com.br - "A Última Noite de Boris Grushenko", de Woody Allen

A Última Noite de Boris Grushenko (Love and Death – 1975)

O melhor filme dessa fase inicial de Woody Allen, que iniciaria, com seu próximo projeto, um período mais maduro, mas não menos engraçado.

Nesta comédia ele explora os limites de sua zona de conforto, utilizando referências ousadas ao trabalho literário de Dostoiévski e Tolstói (vale lembrar que, em seus trabalhos anteriores, ele havia se amparado mais no pastelão e no humor popular), além de começar a demonstrar seu fascínio por seu ídolo Ingmar Bergman, notem a forma como ele filma, logo no início, um russo que fala diretamente à câmera, e seu filme favorito: “O Sétimo Selo”. A grandiosidade da produção impressiona e o diretor demonstra total confiança em sua técnica.

Diane Keaton novamente preenche a tela com seu carisma e beleza, vivendo a prima do protagonista. Apaixonado pela complexidade da jovem, que defende diálogos muito espirituosos em seu existencialismo, elemento novo na obra do diretor, que viria a se tornar um padrão, frustra-se ao perceber que ela não o vê com os mesmos olhos de arrebatador desejo. O roteiro parece querer demolir aquela austera seriedade que normalmente se faz presente ao discutir esses temas…

Mesmo? Espere um pouco, senhoras e senhores leitores, eu peço uma salva de palmas para esse crítico. Nunca imaginei que meu trabalho fosse decodificado de forma tão brilhante. Fiz questão de parar minha apresentação de jazz, somente para demonstrar minha admiração. Lógico que estou brincando, rapaz. (Woody Allen)

A ESPECTRAL MORTE GOSTARIA DE AGRADECER AOS SEUS FÃS PELA INCRÍVEL ACOLHIDA QUE DERAM AO LIVRO. ELA APROVEITA PARA AVISAR TAMBÉM QUE FOI CONVIDADA PARA UM NOVO REALITY SHOW, EM QUE PROMETE ABALAR AS ESTRUTURAS…



Viva você também este sonho...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui