A Caça (Jagten – 2012)

Lucas acaba de dar entrada em seu divórcio. Ele tem um novo emprego na creche local, uma nova namorada e está ansioso pela visita de natal de seu filho, Marcus. Mas o espírito de natal desaparece quando Klara, uma aluna de cinco anos de idade, faz uma acusação de abuso contra Lucas, o que desencadeia o ódio de toda a comunidade em que ele vive.

O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg provou com “A Caça”, ter amadurecido em seu estilo, enquanto seu polêmico colega de Dogma 95 (ainda que, com maior senso de marketing pessoal), Lars Von Trier, continua “falando muito e fazendo pouco”. Escolhendo revisitar o tema de seu primeiro filme: “Festa de Família”, mas sem a estética crua,
ele abraçou o potencial emocional de um protagonista cuja inocência nos é apresentada de início.

A bela fotografia de Charlotte Bruus Christensen auxilia ao emoldurar o cair das folhas de outono, inclusive como metáfora, simbolizando o crepúsculo de um homem oprimido, sendo complementada pela excelente interpretação de Mads Mikkelsen, que foge de sua zona de conforto, oferecendo um retrato humano e passional. Nenhuma chance é dada a ele, pois todas as famílias da região agarram-se ao inconsciente coletivo do pavor, temendo que ele se aproxime de suas crianças. Lucas (Mads) é um homem bom, adorado por seu filho e seus alunos, incapaz de cometer atos tão cruéis.

Nós somos levados então a um calvário pessoal, em que progressivamente todos os membros da comunidade passam a duvidar de sua inocência. A jovem Annika Wedderkopp (Klara) surpreende com uma excepcional atuação infantil, diferente da celebrada menina de “Indomável Sonhadora”, que apenas seguia instruções do diretor. Vinterberg nunca apela para o óbvio, enaltecendo mártires e pintando com tintas fortes os vilões, pois prefere mostrar todos como seres humanos falíveis e propensos a escolhas erradas. O leitmotiv da confiança é explorado até o brilhante desfecho, em que o roteiro ainda inclui uma poderosa crítica social e religiosa.

O simples benefício da dúvida já seria o suficiente para auxiliar no processo angustiante em que o protagonista se vê vitimado, mas a mensagem que o filme aborda é cruel em sua veracidade: a sociedade, desde o início dos tempos, sempre esteve propensa ao apedrejamento coletivo, algo que requer menos argumentação que a árdua tarefa de tentar enxergar a flor no lodo.



Viva você também este sonho...

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