Questão de Tempo (About Time – 2013)

O neozelandês Richard Curtis é extremamente eficiente como roteirista, mais do que como diretor, tendo escrito algumas das melhores comédias românticas das últimas décadas (“Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Simplesmente Amor”).

O conceito da viagem no tempo é sempre instigante quando trabalhado com inteligência e alguma sensibilidade (como o escritor Richard Matheson em Bid Time Return, que foi adaptado no adorável “Em Algum Lugar do Passado”), ainda que em porção diluída, como neste “Questão de Tempo”.

A trama criativa trabalha sentimentalmente, sem nunca resvalar no piegas, as transformações humanas advindas das idas e voltas no tempo, estabelecendo regras que são respeitadas, tornando a imersão na brincadeira algo verdadeiramente natural. Curtis aproveita para relembrar seus tempos como roteirista dos programas de Rowan
Atkinson (o “Mr. Bean”), potencializando os aspectos patéticos do humor, apostando no pastelão.

Existem problemas na estrutura do filme, mas não prejudicam o resultado final. O segundo ato se alonga mais do que o necessário em subtramas que nunca são plenamente desenvolvidas; a mensagem é simples, mas é desgastante a forma que o roteiro encontra para tentar engrandecer o óbvio, a vida é curta e devemos apreciar cada momento – um pouco de sutileza seria muito bem-vinda. Quando o leitmotiv retorna no terceiro ato qualquer pequeno dano já estará esquecido. A manipulação do tempo que o personagem herda de seu pai (o excelente Bill Bighy) é limitada a pequenos feitos, fazendo com que o jovem Tim (Domhnall Gleeson) utilize seu superpoder apenas em flertes românticos, como quando busca reencontrar a jovem Mary (Rachel McAdams).

Por mais que esperemos que nas comédias românticas o coração da obra esteja no casal do pôster, surpreende que nesse filme o sangue pulse mais forte na relação entre pai e filho, a verdadeira história de amor que Curtis deseja contar. Revelar demais a trama seria um desserviço, mas a forma que o roteiro encontra de complicar a vida do rapaz já vale o ingresso. E, assim como no excelente “Feitiço do Tempo”, ele irá aprender a ser um homem melhor devido ao uso deste poder.

O terceiro filme de Curtis como diretor também pode ser considerado seu projeto mais pessoal, simbolizado por um acontecimento que ocorre no desfecho, que obviamente não revelarei. A forma como ele lida com valores familiares e relacionamentos amorosos pode ser ingênua e sacarina, mas existe como uma reflexão madura de alguém que não segue uma fórmula.

Ao contrário do que faz Nicholas Sparks, por exemplo, conseguimos sentir a real afeição do escritor por cada personagem que ele conduz nas páginas do roteiro. Existe algo de Frank Capra em seus trabalhos, o que os faz resistir ao duro teste do tempo. As lágrimas ao final brotam naturalmente.



Viva você também este sonho...

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