No Paiz das Amazonas (1922)

Na ocasião do centenário da Independência do Brasil, em
1922, o comendador J.G. Araújo, acreditando plenamente na capacidade do diretor Silvino Santos, em quem investia altas somas, convocou o amigo para produzir um filme
que vendesse o Amazonas para o mundo. É difícil imaginar o impacto das imagens
no público da época, já que basta trocar de canal, para encontrar a vida
selvagem filmada em cores e em (super) câmera lenta, mas era uma mistura de
espanto e deslumbramento. A câmera nunca se mostra passiva, é manipulada por alguém
que entende a necessidade de utilizar a imagem como construtora de mitos,
invertendo sequências, potencializando a tensão em uma realidade comum, com
momentos de pura poesia visual. Ele registra em detalhes o trabalho com a
extração de látex, a pesca dos pirarucus e dos peixes-boi, a rotina dos índios
Parintintins, mas nunca resvala na monotonia. Assistir a obra, ainda hoje, faz
qualquer apaixonado por cinema se quedar boquiaberto. É interessante analisar
que, no mesmo ano, foi lançado o documentário celebrado mundialmente: “Nanook,
o Esquimó”, de Robert Flaherty, que não sobreviveu ao teste do tempo com a
mesma elegância. Um trabalho que mostra uma Amazônia lúdica, que faz parte do
imaginário aventuresco e inteligentemente ordenado segundo o ponto de vista de
Silvino, que, na adolescência, se apaixonou pelo local visto em uma gravura,
tendo, desde então, objetivado capturar aquela versão mítica com sua lente.

devotudoaocinema.com.br - "No Paiz das Amazonas" / "Copacabana, Mon Amour"

Copacabana, Mon Amour (1970)

Na comédia experimental de Rogério Sganzerla, com trilha tropicalista de Gilberto Gil,
a provocante Sônia Silk, vivida por Helena Ignez, é uma espécie de Barbarella
que transita no universo caótico de personagens exóticos do morro carioca,
perseguida pelo fantasma de sua loucura e constantemente maldizendo a velhice e
a miséria. Um macumbeiro, uma prostituta que sonha ser cantora de rádio,
elementos de um submundo que desconstrói as convenções, zombando de tudo e
todos em tom gritado, com discurso subversivo, num espírito de anarquia que
reflete o período conturbado em que o Brasil se encontrava. A câmera evidencia
os dois mundos radicalmente opostos que habitam o mesmo espaço, o morro e o
asfalto, preocupando-se mais em dar voz às reflexões dos personagens, sem uma
estrutura linear, palavras soltas e repetições, intercalando pensamento falado
e afirmação, como Saramago, uma linguagem literária em um meio audiovisual. A
mulher que berra a negação de ser tarada, após sofrer uma tentativa de abuso
sexual, como forma de apertar a ferida aberta de uma sociedade machista que,
até hoje, culpa a mulher pelo estupro. A estranheza consequencial faz parte da
catarse proposta pelo diretor.

* Os filmes estão sendo lançados em DVD, pela distribuidora Versátil.



Viva você também este sonho...

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