Zombie – O Despertar dos Mortos (Dawn of The Dead – 1978)

“A Noite dos Mortos-Vivos” é puro instinto, cinema de guerrilha, atmosfera, soco no estômago, claustrofobia, um ato ousado que modificou o cenário do horror no mundo todo, inspirando toda uma geração de cineastas, uma trama simples e apavorante, onde a ameaça não era representada por monstros ou psicopatas, mas, sim, por entes queridos falecidos.

Como é salientado em uma das cenas da continuação, o apocalipse zumbi poderia ter sido evitado, caso as pessoas tivessem vencido suas amarras morais e matado seus familiares infectados. Esse conceito revolucionário, que adicionou o canibalismo como recurso visual de impacto, foi, talvez, a última grande criação no gênero, vítima atualmente de reutilizações pouco inspiradas.

Com “Zombie – O Despertar dos Mortos”, George Romero deixou o instinto um pouco de lado, mais confiante enquanto realizador, e calculou cada página de seu roteiro em escala épica. Enquanto o anterior era o exercício apaixonado de um jovem, essa sequência é o trabalho de um profissional maduro, com total domínio de sua pretensão, além de pleno controle criativo. No anterior, os caipiras americanos, que, sorridentes, tiravam fotos com os zumbis mortos, representavam a estupidez humana, os verdadeiros monstros da história, já que não eram acéfalos.

A escolha do alvo, dessa vez, foi mais corajosa, uma crítica social mais abrangente e exposta sem sutileza, os zumbis do consumismo, aqueles que, mesmo após a morte, escolhem retornar para o ambiente em que se sentiam mais confortáveis, um imenso centro comercial. A claustrofobia dá lugar ao marasmo padronizado de vitrines e escadas rolantes.

O tema é implacavelmente atual, quando analisamos, por exemplo, a comoção popular que sucede cada lançamento de um novo aparelho eletrônico, ou a ansiedade de uma pessoa que gasta o dinheiro suado em caríssimas roupas de grife, pagando pela marca, apenas para satisfazer um subjetivo status social. E se pensarmos que, na época, não havia tantos shopping centers, podemos dizer que Romero foi profético em sua visão. É impossível negar o mérito do maquiador/técnico de efeitos visuais Tom Savini, que deu o tom do gênero nas produções que se seguiram, especialmente as europeias, abusando do gore.

Acho interessante como o roteiro já evidencia a crítica social antes mesmo do primeiro zumbi aparecer, numa curta cena que nunca é lembrada, quando os policiais estão se preparando para invadir o prédio com os porto-riquenhos. Eles vivem abaixo da linha da pobreza, estranhos em uma terra estranha, porém, um dos policiais afirma, com ódio no olhar, que aqueles desgraçados possuem muito mais do que ele.

A inveja do ser humano, sintoma de insegurança, é um dos estímulos que o conduz à compensação material, o convite para o consumismo, o que explica a preferência do “ter”, em detrimento do “ser”, que é o refinado resultado de uma mente emocionalmente madura.



Viva você também este sonho...

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