Deus Sabe Quanto Amei (Some Came Running – 1958)

O veterano amargo, viciado em álcool e ex-escritor Dave Hirsh (Frank Sinatra) volta para casa depois de anos. O seu irmão o apresenta para a professora Gwen French, mas Dave prefere passar seus dias com um apostador profissional que gosta de festas, Bama Dillert (Dean Martin).

É impressionante como este excelente filme é pouco comentado, até mesmo entre os cinéfilos apreciadores dos clássicos. Um dos melhores trabalhos do diretor Vincente Minnelli, consegue extrair de Frank Sinatra, que foi um ótimo ator, ainda que os críticos usualmente ignorem esta faceta, uma das suas interpretações mais ricas em camadas psicológicas.

Ele vive um soldado que retorna da guerra e, por ter a sensibilidade criativa de um artista, um escritor, sofre a perturbação potencializada em seu reencontro com a sociedade. Até mesmo Dean Martin, um ator reconhecido por ser um adorável canastrão, consegue surpreender no papel de um jogador de cartas. E, ao final, é linda a forma como seu personagem, num ato raro, respeitosamente tira o chapéu. Um gesto simbólico, que não irei explicar muito, para não estragar a experiência, mas que diz bastante sobre o personagem.

Após experimentar a brutalidade irracional, sendo transformado em sua essência, o escritor fica incapaz de enfrentar sóbrio o seu próprio passado. É interessante a forma como a trama coloca em confronto o personagem com seu irmão mais velho, vivido por Arthur Kennedy, um hipócrita banqueiro casado que sempre recriminou a relação do caçula com a jogatina e sua atitude de mulherengo, indiferente ao fato de que, em sua função, flerta agressivamente com sua secretária, além de costumar jogar profissionalmente com seus clientes, com menos caráter e ética. A diferença é que o mais novo abraça a sua realidade sem máscaras.

Vale salientar também a relação entre o escritor e sua admiradora, a mulher da vida vivida por Shirley MacLaine, que o ama sem prejulgamentos, como criança, que sofre a cada atitude de desprezo dele. Estimulado pelo desafio autoimposto de conquistar o coração de uma fria professora, como que uma tentativa inconsciente de fazer as pazes com sua própria intelectualidade, ele irá aprender, pela dor, que o verdadeiro amor pode se esconder na flor mais cheia de espinhos.

O roteiro foi adaptado de um livro de James Jones, o responsável por “A Um Passo da Eternidade”, que, cinco anos antes, havia consagrado o cantor com um Oscar de Ator Coadjuvante. A cerimônia que entregou, no mesmo ano do lançamento de “Deus Sabe Quanto Amei”, o prêmio de direção a Minnelli, por uma de suas obras mais fracas, o musical “Gigi”.

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Viva você também este sonho...

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