1 – Divida de Honra (The Homesman), de Tommy Lee Jones

Ela é uma mulher madura que sobrevive sozinha no Velho Oeste, enfrentando o preconceito da sociedade machista, rejeitando a subserviência ao provar competência em seu trabalho, porém, como uma alma sensível, capaz de aliviar as angústias diárias tocando imaginariamente as teclas de um piano bordadas em tecido, ela deseja ser verdadeiramente amada. O cenário rude, desolado, reflete metaforicamente a negação da sensibilidade, um berço de homens estúpidos que cospem suas mulheres de suas vidas, ao primeiro sinal de problema, figuras vistas como minimamente humanas, dispensáveis. Ao se dispor à difícil tarefa de conduzir três mulheres que perderam a sanidade, por conseguinte, impiedosamente despejadas por seus maridos, até uma cidade onde irão receber tratamento, Mary ousa vestir o manto de sacrifício por uma causa cujo escopo sequer poderia compreender. A alegoria é potencializada pela brutalidade que Tommy Lee Jones, enquanto diretor, não se intimida de mostrar…

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2 – Divertida Mente (Inside Out), de Pete Docter e Ronnie Del Carmen

Quando a mãe prende o cabelo, atitude que representa o resgate da diversão, o pai interrompe para atender ao telefone, a negação da pureza, o abraço no capitalismo, a ambição por ascender no emprego, o gradativo afastamento da família. O momento, comum em nossa existência, onde os pais passam a deixar a responsabilidade da criação dos filhos para a televisão, babás, o elemento externo. A menina não compreende nada disso, ela apenas sente falta, sofre em silêncio. A mente, representada pelos agentes de cada sentimento, começa a entender que a felicidade, as esferas douradas, vão minguando. A mensagem mais bonita, aquela que ficará na memória semanas após a sessão, fala diretamente a um dos problemas mais sérios na sociedade moderna, ocasionado pela imaturidade emocional: a incapacidade de lidar com os altos e baixos da vida…

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3 – Birdman, de Alejandro González Iñárritu

O roteiro inteligentemente critica a indústria, apontando o dedo para algo que estamos presenciando, atores veteranos que estão evitando o risco, retornando aos seus papéis populares clássicos, ao invés de estarem experimentando novas emoções, reinventando-se sem a preocupação com o aplauso do público, o que é essencial para um ator. Como é explicitado nos intertítulos que iniciam a obra, tudo se resume à necessidade de se sentir querido. Esse é o real vilão da trama, o Coringa do Birdman: o desejo de se sentir amado, não somente pelo público, mas também pela filha problemática, vivida por Emma Stone, alguém cujo relacionamento foi prejudicado pela rotina profissional que ele escolheu. A busca pelo carinho dos outros, o reconhecimento artístico, que acabou afastando-o daqueles mais próximos…

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4 – O Abutre (Nightcrawler), de Dan Gilroy

A melhor sequência, dentre várias que poderia destacar, representa a esperteza do roteiro em inserir o espectador na pungente crítica que direciona ao jornalismo baixo e imediatista que é realizado nos dias de hoje. Como eu sempre digo: a sociedade não cria os abutres, ela os alimenta. O momento mais inteligente ocorre quando ele adentra o quarto do bebê. Nós não sabemos absolutamente nada sobre aquela família, apenas visualizamos um quarto decorado de forma infantil, com um berço posicionado no centro. É quando o roteiro implacavelmente nos insere na crítica. O personagem se aproxima lentamente do berço, fazendo com que nós compartilhemos o mesmo frenesi daqueles que perdem vários minutos na frente da televisão acompanhando uma perseguição de carro ou um sequestro em tempo real. Nós, os abutres que somos alimentados por esse jornalismo cretino…

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5 – Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road), de George Miller

O toque mais interessante foi transformar o Max de Tom Hardy em um coadjuvante de luxo, inteligentemente subvertendo, em tom claro de crítica, as funções usuais dos personagens em uma obra do gênero. Ao quebrar as expectativas do público, reservando para o herói todos os clichês narrativos que são normalmente relegados às mulheres, que podem ser resumidos na cena em que o ombro de Max serve de apoio para a mira da protagonista, vivida por Charlize Theron, Miller evidencia o desleixo da indústria na criação de heroínas fortes. As sequências longas de ação entorpecem os sentidos, não dão trégua, é uma aula de eficiência, sem o artifício comum de confundir o público, como forma de mascarar a pouca habilidade daquele que está no comando…

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6 – Capital Humano (Il Capitale Humano), de Paolo Virzì

A trama, com sua impecável estrutura em quatro capítulos, incita uma reflexão sobre a queda do império humano, partindo de um evento simples, o atropelamento fatal de um ciclista que não recebeu socorro. Ao costurar as narrativas de seus personagens envolvidos de alguma forma no acidente, o roteiro provoca questionamentos essenciais, críticas severas a um modo de vida cada vez mais egoísta, em que a capacidade de empatia se curva perante a necessidade de se obter vantagens. No primeiro capítulo observamos a rotina de Dino, uma espécie de variação do Kringelein do livro “Grande Hotel”, alguém disposto a tudo para viver “a vida real” na alta sociedade, um verme que vibra por saber que foi convidado para uma mesa elegante em uma festa, já que anseia por aquele refinamento ilusório, ainda que, como é evidenciado em uma cena breve, não entenda a diferença entre diversas grifes de água…

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7 – O Conto da Princesa Kaguya (Kaguya-hime no Monogatari), de Isao Takahata

A beleza não reside na trama, sem novidade alguma para aqueles que já conhecem a história, mas, sim, na forma como ela é contada, utilizando uma técnica de animação que prima pela simplicidade, inspirada na pintura japonesa feita com tinta de caligrafia, o Sumi-ê, que leva em consideração o sentimento do artista em sua execução, tentando deixar transparecer a alma e a harmonia interna, elementos mais importantes do que o tema que o artista está trabalhando. Como forma de perceber a riqueza desse estilo, analise como o traço é classicamente bonito e suave, por exemplo, nas cenas em que vemos a bebê adorável aprendendo a andar, contrastando brutalmente com o traço borrado nas cenas em que a protagonista está emocionalmente perturbada…

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8 – La Sapienza, de Eugène Green

A trama aborda um arquiteto de meia-idade, vivido por Fabrizio Rongione, que se descobre intensamente frustrado ao perceber que desperdiçava seu talento em construções padronizadas, edificações que serviam apenas a uma funcionalidade que não dependia de qualquer traço de personalidade do seu criador. Ele decide então embarcar em uma longa jornada para reviver os passos de seu ídolo na profissão, um mestre barroco romano do século dezessete. A bela alegoria trata verdadeiramente da erudita viagem interna de alguém que deseja se reencontrar com sua paixão inicial pelo trabalho que realiza, implacavelmente se desintoxicando da medíocre geografia urbana globalizada. O segundo ato ganha pontos com a entrada do jovem estudante, vivido por Ludovico Succio, completamente apaixonado pelo tema, muito esforçado, mas sem o aprendizado técnico, um reflexo do arquiteto de outrora no espelho da vida. Inicialmente pouco disposto a servir de tutor, mas eventualmente cativado pelo amor do discípulo pela arquitetura, o homem terá uma chance perfeita de recuperar o entusiasmo perdido, descobrindo ao constatar no horizonte crepuscular de sua vida que a real sabedoria, leitmotiv expresso já no título, reside na dedicada preparação para esse utópico e subjetivo conceito. O sonho que motiva o esforço, elemento que nunca deve se perder nas curvas frustrantes da vida…

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9 – O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett), de Ronit e Shlomi Elkabetz

Como roteirista, eu sempre acreditei que o melhor caminho criativo é a restrição do ambiente em que ocorrem os conflitos dos personagens. E o trunfo dessa produção israelense reside na subversão do cenário usual dos dramas de tribunais, trabalhando com eficiência a claustrofobia de forma interna, palpável no desespero da esposa, já que o elemento externo, a sala dos juízes rabinos, iluminada e em tons brancos, não poderia aparentar ser mais confortável e harmoniosa. Os alívios cômicos brotam de forma inteligente no roteiro, com a função de salientar o absurdo da situação, a estupidez do machismo dominante em quase todas as ideologias religiosas. Em uma das cenas, o próprio irmão da personagem, ao testemunhar em sua defesa, inicia dizendo que, por mais que a ame, o marido dela canta tão bonito na sinagoga, parece até um pássaro, um homem perfeito…

 

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10 – A Festa de Despedida (Mita Tova), de Tal Granit e Sharon Maymon

O que não me sai da cabeça após a sessão, dentre todas as emoções despertadas por esse lindo filme israelense, é a ideia de um homem que se predispõe a aliviar o sofrimento de estranhos, enquanto parece ignorar a gradativa perda da sanidade de sua amada esposa. O conceito de que ele, confrontando as leis naturais com sua máquina de eutanásia, está operando uma fuga da sua própria realidade, reveste a trama com uma camada extra de complexidade psicológica. Os diretores Tal Granit e Sharon Maymon, com tremenda sensibilidade, comandam uma aula de construção de personagens, sem caricaturas, elementos que agem de forma orgânica e inesperada, num equilíbrio perfeito de humor e drama, vale salientar, em doses muito corajosas…



Viva você também este sonho...

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