Hoje é aniversário de um ídolo que tombou em batalha eterna contra o comodismo: Chico Anysio. O maior ator brasileiro de todos os tempos ficou afastado da televisão durante vários anos, incapaz de mostrar seu talento e tendo que assistir, como todos nós, a vergonhosa invasão da mediocridade bestializada que hoje impera no entretenimento televisivo nacional.

A mesma emissora que afastou meu brilhante homenageado do público, colocando-o na geladeira, maior crime que se pode cometer contra uma mente criativa, hoje celebra o circo de horrores que os ingênuos chamam equivocadamente de reality show, um jogo tolo em que a realidade/espontaneidade é algo que não existe, além de programas de humor com cores berrantes e bordões popularescos.

Havia outrora inteligência, sensibilidade e ousadia, antes da insuportável patrulha do politicamente correto, mas agora impera a cópia exata dos moldes estrangeiros, com a televisão buscando na internet o material para suprir suas programações.

Quem se esquece dos monólogos emocionantes do Profeta? Da coragem crítica do pastor Tim Tones? Como público, perdemos contato com este mestre exatamente em seu ápice criativo, quando ainda estava plenamente saudável e disposto.

Tarde demais, resolveram atender aos apelos do público e trouxeram ele de volta, infelizmente no crepúsculo de sua vida. Como eu salientei num texto postado no dia de seu falecimento, ainda ganharão muito dinheiro com seu nome e suas obras, dirão que ele foi o mestre do humor e um gênio inegável. Ambiciosos empacotarão seus maravilhosos programas televisivos e irão vender com belos laços de fita, mas sem nunca revelar a razão de aceitarem calados tanto lixo, enquanto um inestimável patrimônio da cultura nacional foi mantido por vários anos exilado em sua própria nação.

Chico, em sua grandeza de caráter, nunca afirmou suas mágoas, mas sabemos que ele as sentia. Um homem intensamente criativo, que vivia pelo trabalho, sem poder exercer sua arte. A remuneração financeira não é suficiente para vencer o desconforto por não poder fazer o que realmente ama.

Eu me envergonho, tenho certeza que os profissionais sérios da própria emissora também, ao perceber o extremo zelo dedicado até hoje à tantas bizarrices grotescas e sem nenhum valor, quando a mesma casa castigou tão severamente um artista como Chico. Ele será eterno, o seu legado servirá de inspiração para as próximas gerações.

No cinema, ele gravou sua genialidade como argumentista em clássicos como “A Baronesa Transviada” (pérola com Dercy Gonçalves) e “Mulheres à Vista” (adorável comédia com Zé Trindade). Como ator, brilhou em “O Doce Esporte do Sexo” (1971), “Tieta do Agreste” (1996) e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (2011), além de ser eternizado na dublagem da sensacional animação da Pixar, “UP – Altas Aventuras” (2009).

Espero apenas que o mesmo erro cometido com ele não se repita. Homens de televisão, ricos donos e operadores deste belo entretenimento, valorizem aqueles que merecem ser valorizados, sejam responsáveis, justos e conscientes. Aos familiares, meu respeito, sempre!

Chico, grato por tudo que você representou em vida. O povo brasileiro jamais o esquecerá.



Viva você também este sonho...

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