Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2 – 2016)

O primeiro filme entrou em minha lista dos dez melhores em seu ano, considero James Wan um dos melhores diretores de sua geração, um talento que consegue trabalhar de forma autoral com os gêneros, mas alimentado por um respeito profundo pelo passado. Não há nada de novo, além de uma abordagem empolgada de alguém que verdadeiramente compreende as engrenagens do estilo, uma técnica pulsante que utiliza generosamente os ângulos inclinados como forma de realçar o desconforto no espectador, abraçada por um senso de ritmo invejável.

Em uma indústria que despeja obras de péssima qualidade, “Invocação do Mal 2” dá ao público moderno um gostinho de como era viver a época de ouro do cinema de terror pensado para adultos. É uma experiência rara ser conduzido por um artesão inteligente que utiliza de vários recursos sensoriais, com o impecável reforço da trilha sonora de Joseph Bishara, para te fazer investir emocionalmente em um roteiro baseado em uma história real altamente questionável. A faixa “As Close as Hell”, com o coral perturbador em gradativo desespero sônico, já define logo de início a atitude séria com que trata o tema, o grande diferencial de um bom horror.

Os sustos são frequentes, mas o mérito maior está na construção de clima. O caso das irmãs Hodgson, ocorrido na década de 70, fascina especialmente por ter sido registrado em vídeo, com a pequena Janet alternando em uma entrevista a sua voz infantil com trechos onde ela se torna rouca e intensamente grave. É um prato cheio que Wan potencializa com esmero ao reencenar o evento. O lar destroçado é fotografado em tons esmaecidos, salientando a pobreza da família e insinuando, num toque corajoso, razões psicológicas que possibilitariam o extravasamento emocional teatralizado por necessidade de atenção.

O que facilita a imersão no projeto, além da ótima recriação de época, é a vulnerabilidade de Lorraine, vivida por Vera Farmiga, vítima de sua específica sensibilidade. O foco maior dado ao relacionamento do casal de investigadores parapsíquicos, evidenciando em sequências tomadas de ternura o senso de proteção inabalável de um com o outro, nunca resvalando no piegas, engrandece a trama para algo mais do que uma excelente profusão de cenas apavorantes bem executadas. Seria muito fácil para a produção se debruçar na fórmula matadora do anterior, mas o roteiro aceita correr riscos, tentando estabelecer novos totens narrativos nas figuras do “homem torto” e da freira diabólica, substituindo a boneca Annabelle.

Se a utilização excessiva de computação gráfica no “homem torto” prejudica o todo, a grande sacada de inserir como leitmotiv a canção símbolo de Elvis Presley: “Can’t Help Falling in Love”, com função similar à “Edelweiss” no desfecho de “A Noviça Rebelde”, a união familiar como salvação para uma situação aparentemente inescapável, redime qualquer falha.



Viva você também este sonho...

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