
Os 5 Venenos de Shaolin (Wu Du / Five Deadly Venoms – 1978)
“O Clã do Veneno” é um grupo de cinco lutadores altamente treinados, com suas habilidades individuais (pontos fortes e fracos) baseadas na Centopeia, na Cobra, no
Escorpião, no Lagarto e no Sapo. O velho mestre do clã treina um último discípulo para cumprir uma difícil missão: verificar se algum membro do clã está usando suas habilidades para o mal e se for o caso, eliminá-lo. O grande problema é que eles foram treinados usando máscaras e ninguém, nem mesmo o velho mestre, conhece suas identidades.
Quando revemos os grandes clássicos do Kung-Fu, aqueles da década de setenta e produzidos pelos Shaw Brothers ou por Godfrey Ho, acabamos percebendo que grande parte deles não sobreviveu ao teste do tempo, resistindo apenas como curiosidade histórica. Com “Os 5 Venenos de Shaolin” ocorre um fenômeno interessante, já que a cada revisão ele se mostra mais divertido, conseguindo entreter não somente por suas cenas coreografadas, mas também por sua trama (ainda que essencialmente verse sobre o comum tema da vingança).
O competente diretor Chang Cheh utiliza generosamente como influência os “Wuxia” (literalmente: “herói marcial”, são as obras mais fantasiosas, onde os poderes do guerreiro são exagerados, complementando o “Wushu” com a habilidade de voo, por exemplo), mas dedicando atenção também ao desenvolvimento dos personagens e suas motivações (elemento essencial que culminará na reviravolta narrativa ao final), algo que raramente era prioridade nas produções deste período. Como os protagonistas são oriundos da Ópera de Pequim, onde o foco era no domínio perfeito dos movimentos corporais (logo, na execução impecável das cenas de ação), não esperem atuações memoráveis, pois são apenas funcionais.
Mas quando o poderoso desfecho se insinuar no horizonte, trazendo os cinco membros do clã unidos em uma única batalha, cada um demonstrando sua especialidade, qualquer falha estrutural terá sido esquecida. O melhor filme produzido pelos Shaw Brothers, que continua pisando firme na cultura popular mundial, tendo sido referenciado em “Kill Bill” (de Quentin
Tarantino), com o grupo “Deadly Viper Assassination Squad”, liderado pelo personagem de David Carradine.
Billy Jack (1971)
Tom Laughlin interpreta o personagem-título, um descendente dos índios americanos e ex-Boina Verde voltando a viver na solidão em uma reserva no Arizona. Nesse momento um grupo de estudantes de uma escola progressiva enfrenta a intolerância racial da comunidade local. Transformado em um protetor da escola, Billy Jack não tem outra escolha a não ser fazer justiça com as próprias mãos.
Em um esforço hercúleo do astro Tom Laughlin, que protagonizou, produziu, roteirizou, dirigiu e financiou sua projeção nos cinemas, este projeto de seus sonhos tornou-se um objeto de culto na década de setenta, porém hoje são poucos os que se recordam dele. Como praticante de Hapkido (técnica que envolve, além do uso de bastões e leques, a
utilização de pontos do corpo, que quando pressionados, imobilizam o oponente),
Laughlin intencionava disseminar em sua cultura esta Arte. A trama é simples e um tanto quanto datada, colocando em confronto o conceito hippie da época (a escola incentivava as crianças a serem livres, pintando, andando a cavalo e encenando peças teatrais) e o sistema policial opressor. As cenas de luta, coreografadas pelo mestre Bong Soo Han, impressionam na utilização realista dos chutes (inclusive um que realmente se choca com o rosto do oponente).
O melhor momento continua sendo o desfecho, que não envolve uma coreografia de artes marciais, mas funciona emocionalmente (com a ajuda da ótima canção-tema: “One Tin Soldier”) como um encerramento coerente para o arco do protagonista. Após ser levado ao seu limite, o obstinado “soldado de lata” recebe o apoio dos únicos seres por quem devotou sua existência. Neste mundo de valores invertidos, como diz o refrão da música: “Vá em
frente e odeie seu vizinho, minta para seu amigo, porém faça em nome de Deus, pois assim poderá se justificar ao final”.