O Grande Hotel Budapeste (The Grand Hotel Budapest – 2014)

Na década de 1930, o gerente de um famoso hotel europeu torna-se muito amigo de um jovem companheiro de trabalho. Os dois acabam se envolvendo no roubo de um famoso quadro de valor inestimável e na batalha por uma fortuna de família. O filme mostra as mudanças históricas na Europa que ocorreram durante os anos 20.

É possível encontrar no roteiro um pouco da elegância cômica de Ernst Lubitsch, uma melancolia que ecoa a de “O Tempo Redescoberto” de Marcel Proust, criativas gags sonoras que remetem a Jacques Tati, uma respeitosa reverência à fictícia Freedonia dos Irmãos Marx, até mais explicitamente uma homenagem a Blake Edwards, em uma das situações mais engraçadas no terceiro ato e na inspiração em Clouseau, eterno Peter Sellers, nos trejeitos do personagem de Ralph Fiennes.

Há também grande similaridade com a abordagem metafórica proposta por Vicki Baum em seu livro “Grande Hotel”, do estabelecimento de hospedagem como um microcosmo humano, um personagem que respira e evolui na história. O aspecto fabulesco, realçado pelo estilo visual inimitável do diretor, com a fotografia do usual parceiro Robert Yeoman, e pelo constante uso dos cenários pintados na paisagem, evidencia ainda mais a contundência emocional da mensagem, que se revela cada vez mais tocante em revisões.

O roteiro de Wes Anderson é inspirado no trabalho literário do austríaco Stefan Zweig, autor de “Carta de uma Desconhecida” (que foi adaptado no belo clássico dirigido por Max Ophuls), que é representado na trama em duas fases de sua vida por Jude Law e Tom Wilkinson, mas cuja personalidade também é percebida na construção do personagem de Fiennes, em seu melhor papel em muitos anos.

Nós somos presenteados com uma trama que é apresentada pela ótica criativa do autor, as lembranças que ele conta a partir das lembranças do dono do hotel, enquanto jovem impressionável, vivido por F. Murray Abraham e pelo promissor estreante Tony Revolori. Esse recurso narrativo possibilita, com o auxílio de uma espécie de MacGuffin (o quadro do garoto com a maçã), uma intensa experimentação com vários gêneros, como o filme de espionagem, o filme de prisão, o giallo italiano, a comédia pastelão e até o terror, representado especialmente pelo personagem vivido por Willem Dafoe.

O resultado pode ser menos cálido e emocionalmente envolvente que o anterior “Moonrise Kingdom”, mas compensa com o senso de humor mais acessível e um ritmo empolgante, como se o diretor quisesse mostrar que pode brincar competentemente no terreno das produções formulaicas dos estúdios, sem perder sua personalidade.



Viva você também este sonho...

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