O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man – 2014)

Depois de ser brutalmente torturado, um imigrante de origens chechena e russa faz uma viagem à comunidade islâmica de Hamburgo, tentando resgatar a grande herança que seu pai teria lhe deixado. Mas a chegada súbita deste homem desperta a curiosidade das polícias secretas alemã e americana, que passam a acompanhar seus passos.

É válido destacar que, com apenas três filmes no currículo, o diretor holandês Anton Corbijn consegue reafirmar sua segurança nesta ótima adaptação da melancólica obra de John le Carré, um dedo crítico apontado em desprezo aos métodos adotados pela inteligência americana da era Bush filho, que se torna ainda mais relevante por mostrar uma das melhores atuações do saudoso Philip Seymour Hoffman, como um solitário e desesperançado líder da agência secreta alemã contra o terrorismo, que, como é usual nos trabalhos do escritor, necessita resgatar a confiança em si mesmo e nos outros. A inteligência criativa de substituir o excesso de diálogos expositivos, usuais em tramas similares, pela utilização de elegantes metáforas visuais, que enriquecem a obra em uma revisão mais atenta.

A força do elenco ajuda a dar peso à trama, com destaque para Robin Wright, Daniel Brühl, Willem Dafoe e Homayoun Ershadi, parceiro de Kiarostami em “Gosto de Cereja”, que, mesmo limitado em um papel estereotipado, consegue impor sua presença. Um thriller adulto, coisa rara na indústria atual, em que as melhores cenas de ação ocorrem em trocas de olhares inebriados de uísque ou na fumaça do cigarro que o protagonista expele após mais uma desilusão. Um homem exaurido, um elemento que o ator sinaliza com a rouquidão da voz. Aquele tipo de suspense que depende exclusivamente do investimento emocional do público com o personagem, temendo pela consequência natural de seus atos.

E, diferente de outras adaptações do autor, o roteiro de Andrew Bovell não comete o equívoco de tentar abraçar todos os temas em duas horas, decidindo espertamente se focar no personagem vivido por Hoffman, cuja contraparte literária nem é tão interessante, mas que era enigmático o suficiente para ser explorado na linguagem cinematográfica.

E o aspecto visual é um elemento essencial na condução da trama, graças à fotografia de Benoit Delhomme, com uma paleta azul fria que evidencia a onipresença da finitude, não somente de forma literal, mas também ideológica.



Viva você também este sonho...

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