Críticas

“Patrulha da Madrugada”, de Edmund Goulding

Patrulha da Madrugada (The Dawn Patrol – 1938)

Em 1915, durante a Primeira Guerra na França, um oficial britânico, Major Brand (Basil Rathbone), comanda o 39º Esquadrão da Royal Flying Corps. Jovens e inexperientes aviadores vão para os ares em verdadeiros caixotes voadores, e a taxa de acidentes é terrível. Brand não consegue que nos quartéis os altos oficiais vejam a razão. O insubordinado, e herói do esquadrão, Capitão Courtney (Errol Flynn), também é uma dor de cabeça para Brand. Mas as coisas mudam quando Brand assume o comando e jovens e veteranos lutam juntos contra os temidos pilotos alemães.

Em uma das cenas mais importantes, o protagonista, vivido por Errol Flynn, em uma de suas melhores interpretações, abraçando uma complexidade de emoções que poucos personagens ofereceram em sua carreira, afirma para seu colega: “O homem é um animal selvagem que, por períodos, alivia sua tensão tentando se destruir.”

É exatamente esta postura crítica direta, corajosa, que eleva a qualidade do filme dirigido por Edmund Goulding, um roteiro que evidencia os bastidores do confronto, a utilização de jovens como gado a ser abatido, analogia representada na sequência final, em que, após uma tragédia que abala a moral dos soldados, uma nova equipe é apresentada ao comando, rostos ingenuamente sorridentes, rapazes que acreditaram na propaganda, números em uma estatística.

Esta refilmagem superior do clássico homônimo de Howard Hawks, filmado em 1930, um suposto plágio de “Anjos do Inferno”, de Howard Hughes, conta ainda com David Niven e Basil Rathbone. Um detalhe que considerei interessante, por não ser o comum na abordagem dos filmes de guerra da época, foi a subtrama do piloto alemão que, abatido, é recebido pelos soldados americanos, tratado com respeito e cordialidade, até humor, algo que seria retratado no ano seguinte em “A Regra do Jogo”, de Jean Renoir.

As cenas de batalha aérea são eficientes, mantém um charme imbatível, porém, o foco da câmera está sempre na reação dos soldados ao perderem seus companheiros, o que tornou a obra atemporal.

A camaradagem de estranhos, com pouco tempo para efetivamente se conhecerem, envolvidos em um jogo brutal que não compreendem plenamente.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Studio Classic Filmes”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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