(Texto escrito e postado originalmente em NOVEMBRO de 2016)

Eu abordei em um texto recente o meu relacionamento com minha saudosa avó materna Haydê (leia aqui), mas nada havia me preparado para o que descobri dias atrás. Eu tive contato com alguns de seus diários, registros das décadas de 50 e 60. E, o mais espetacular, percebi que ela era tão apaixonada por cinema quanto eu!

Ela informava sistematicamente todos os filmes vistos, a sala de cinema de cada sessão, com direito até a uma breve opinião (péssimo – regular – bom – ótimo – excelente). Faço questão de compartilhar com você alguns destes registros, já que não daria para inserir todos, mais de 30 páginas de filmes vistos nas salas do Rio de Janeiro entre 1952 e 1969.

O que mais me emociona é saber que exatamente no ano inicial ela estava com a minha idade, trinta e três anos. Na foto acima, tirada em 1953, ela está com minha mãe Eliane no colo, ao lado do meu saudoso avô Newton.

1952

3 de maio – Palácio – Tico-Tico no Fubá, de Adolfo Celi (bom)

28 de maio – Palácio – David e Betsabá, de Henry King (regular)

3 de agosto – Palácio – A Cigana me Enganou, de Norman Z. McLeod (ótimo)

30 de agosto – Palácio – A Estrela do Destino, de Vincent Sherman (regular)

Cinco dias antes de minha mãe nascer, o filme visto foi:

27 de setembro – Metro – O Vale da Decisão, de Tay Garnett (ótimo)

1 mês depois de dar a luz, já estava de volta ao cinema:

1 de novembro (sábado) – Olinda – Chaga de Fogo, de William Wyler (ótimo)

1953

7 de fevereiro (sábado) – América – Carnaval Atlântida, de José Carlos Burle e Carlos Manga (ótimo)

12 de fevereiro (quinta) – Pax – Filhos do Deserto, com Stan Laurel e Oliver Hardy (ótimo)

21 de fevereiro (sábado) – Ipanema – Barnabé, Tu és Meu (“ótima comédia com Oscarito”)

14 de março (sábado) – Rex – Uma Noite na Ópera (“ótima comédia com os Irmãos Marx”)

1 de abril (quarta) – Metro – Ivanhoé (ótimo)

1 de maio (sexta) – América – O Cangaceiro (ótimo)

31 de maio (domingo) – América – Uma Pulga na Balança, de Luciano Salce (bom)

2 de agosto (domingo) – Olinda – O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille (bom)

5 de setembro (sábado) – Carioca – A Lei do Chicote, de Lewis Milestone (bom)

7 de setembro (segunda) – Carioca – Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin (excelente)

15 de outubro (quinta) – Metro – Lili, de Charles Walters (“ótimo na nova tela panorâmica”)

26 de dezembro (sábado) – Palácio – O Ladrão Silencioso, com Ray Milland (“bom, sem diálogos, um pouco cansativo”)

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1954

31 de janeiro (domingo) – Olinda – O Intrépido General Custer (primeiro filme que meus avós viram juntos, no início de namoro, onze anos antes)

6 de março (sábado) – Olinda – Guerra dos Mundos, de Byron Haskin (bom)

26 de março (sexta) – Odeon – Museu de Cêra (“bom, pena que seja em terceira dimensão, obrigando o uso de óculos que cansam muito a vista”)

30 de abril (sexta) – Palácio – O Manto Sagrado (“ótimo, em Cinemascope”)

4 de maio (terça) – Império – Nem Sansão, Nem Dalila (“boa comédia nacional”)

15 de maio (sábado) – Madrid – Cabeleireiro das Arábias, com Fernandel (“boa comédia francesa”)

22 de maio (sábado) – Presidente – Sua Majestade, o Sr. Carloni (“ótimo filme italiano”)

12 de junho (sábado) – Palácio – A Um Passo da Eternidade (ótimo)

15 de junho (terça) – Palácio – Os Brutos Também Amam (bom)

18 de junho (sexta) – Marabá – Só Resta Uma Lágrima (“ótimo filme com Olivia de Havilland”)

2 de setembro (quarta) – Carioca – Náufragos do Titanic (“ótimo filme com Barbara Stanwyck”)

20 de novembro (sábado) – Império – O Salário do Medo (“excelente filme francês”)

31 de dezembro (sexta) – Metro – Rapsódia (“ótimo filme com Elizabeth Taylor”)

1955

8 de janeiro (sábado) – Olinda – O Filhinho do Papai (“ótima comédia com Jerry Lewis e Dean Martin”)

24 de janeiro (segunda) – Olinda – Alice no País das Maravilhas (“primeiro filme do festival Walt Disney”)

29 de janeiro (sábado) – Olinda (tarde) – Branca de Neve e os Sete Anões / Carioca (noite) – Interlúdio, de Hitchcock (excelente)

19 de março (sábado) – Carioca – Angú de Caroço (“ótima comédia com Ankito”)

26 de março (sábado) – Olinda – A Grande Noite de Casanova (“boa comédia com Bob Hope”)

30 de abril (sábado) – Metro – Sete Noivas Para Sete Irmãos (bom)

7 de maio (sábado) – Olinda – A Princesa e o Plebeu (“ótimo filme com Audrey Hepburn e Gregory Peck”)

9 de junho (quinta) – Olinda – Janela Indiscreta, de Hitchcock (bom)

13 de julho (quarta) – Olinda – A Princesa e o Plebeu (“vi pela segunda vez”)

5 de novembro (sábado) – Olinda – Sabrina (“ótimo filme com Audrey Hepburn”)

24 de dezembro (sábado) – Madrid – Papai Pernilongo, com Fred Astaire (“excelente e delicioso”)

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1956

26 de janeiro (quinta) – Avenida – Romeu e Julieta (“boa comédia com Cantinflas”)

4 de fevereiro (sábado) – Carioca – Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan (ótimo)

7 de abril (sábado) – Madrid – O Pecado Mora ao Lado, de Billy Wilder (bom)

14 de abril (sábado) – Madrid – Casa de Bambu, de Samuel Fuller (ótimo)

19 de maio (sábado) – Metro – Eles e Elas (regular)

30 de junho (sábado) – Madrid – Suplício de Uma Saudade (excelente)

1 de setembro (sábado) – Olinda – Sangue de Bárbaros (bom)

16 de setembro (domingo) – Madrid – Colégio de Brotos (“ótima comédia com Oscarito”)

Você sabe que “Ben-Hur” (1959) é o filme responsável por meu amor pelo cinema, desde que o assisti pela primeira vez aos quatro anos de idade. Cito isto em meu primeiro livro e em diversos textos do blog. Imagine minha emoção ao encontrar nos registros dos diários de 1961/1962 estes trechos:

1961

11 de março (domingo) – “Newton comprou entradas para o filme Ben-Hur, amanhã no Metro”.

12 de março (segunda) – Metro – BEN-HUR – (“excelente filme, são 4 horas de projeção e não se sente passar o tempo”)

16 de março (sexta) – “Comprei entradas para amanhã ver Ben-Hur de novo”.

17 de março (sábado) – Metro – “Vimos Ben-Hur e mais uma vez achei-o um filme excepcional”.

1962

11 de janeiro (quinta) – Metro – “Vi novamente o excepcional Ben-Hur”.

22 de janeiro (terça) – Metro – “Vi novamente Ben-Hur”.

24 de janeiro (quarta) – Metro – “Fui ver com as crianças novamente Ben-Hur”.

27 de janeiro (sábado) – Metro – “Fui com as meninas (de novo) e levei uma vizinha para ver Ben-Hur, esse filme excepcional que, quanto mais se vê, mais vontade se tem de ver. Fomos vê-lo pela sexta vez”.

31 de janeiro (quarta) – Metro – “Fui com as meninas ao Metro pela última vez, pois é o último dia do excepcional Ben-Hur, que vimos pela sétima vez”.

A minha mãe pequena ficou apaixonada pelo filme e me passou este maravilhoso “vírus”.

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E, mostrando que minha avó era uma crítica informal de personalidade forte, cito três avaliações adoravelmente controversas do ano de 1962:

20 de junho (quarta) – Palácio – A Aventura, de Antonioni (péssimo)

19 de julho (quinta) – Eskye – O Terror das Mulheres, de Jerry Lewis (péssimo)

28 de outubro (domingo) – Britânia – Divórcio à Italiana, de Pietro Germi (péssimo)

Para finalizar, a primeira sessão daquele que seria lembrado por ela no futuro como seu filme favorito, aquele que assisti com ela em DVD poucas semanas antes de seu falecimento:

31 de dezembro de 1962 (segunda) – Olinda – “Vi o excelente filme SISSI, com Romy Schneider”.

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Fico feliz que minha avó materna tenha vivido para ver meus primeiros passos na área artística. Ela foi uma grande dama. Esta é minha singela homenagem a ela.



Viva você também este sonho...

5 COMENTÁRIOS

  1. Fiquei muito contente e emocionada. Todas as vezes que ela ficava conosco, eram várias sessões de cinema:"nostalgia" e "últimos lançamentos"…Era tão bom! O cinema, para tua avó, era uma das maiores diversões, mesmo quando estava em viagem com teu avô. Obrigada, filho, por essa singela homenagem!
    OBS: Adorei me ver com 7 meses junto com meus saudosos, queridos e muito amados pais. Te amo!

  2. Amei!!! Tive pouquíssimo contato com ela, mas lembro que era uma senhorinha adorável. Vimos mais ou menos os mesmos filmes e com opiniões parecidas sobre eles kkkkk parabéns pela sua ascendência!!!!

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