Pagliacci (2018)

“O palhaço perde a dignidade com dignidade”, afirma um dos entrevistados no documentário “Pagliacci”, dirigido por Chico Gomes, Júlio Hey, Luiza Villaça, Pedro Moscalcoff e Luiz Villaça. A admiração mútua, o respeito pelo picadeiro e o orgulho dos artistas verdadeiramente emocionam. Com muita ternura e poesia, testemunhamos os bastidores da construção da peça, dos ensaios à apresentação final.

A engrenagem essencial, ainda que ausente, o saudoso Domingos Montagner conduz desde o início a equipe, sempre citado por seu apelido carinhoso. Mas, levando em consideração a atemporalidade importante no gênero, nada é comentado sobre sua ligação com o grande público pelos trabalhos na televisão, ou as circunstâncias de seu falecimento, sequer um letreiro convencional explicativo. Apenas um detalhe, claro, que não prejudica a obra em curto prazo. É, acima de tudo, uma homenagem intimista e apaixonada aos esforços de Fernando Sampaio, Domingos e sua esposa, Luciana Lima, que idealizaram a companhia La Mínima.

Há inegável desequilíbrio tonal na forma como o foco é desviado constantemente para subtemas, como a situação atual dos circos em uma sociedade cada vez mais internalizada e cínica, ou a proposta de uma análise mais profunda sobre a representatividade do palhaço nas páginas da história. Apesar da curta duração, o ritmo trôpego, consequência do problema citado, atrapalha a imersão.

O que fica ao final é valoroso, a melancolia dos guerreiros corajosos de uma arte que o tempo parece tentar destruir. A bela resistência acrobática que se humilha graciosamente perante o público, buscando apenas extrair um esperançoso sorriso. Enquanto houver bondade no mundo, haverá o circo.

  • Crítica publicada no Caderno B do “Jornal do Brasil” (26/04/18).


Viva você também este sonho...

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