1 – História de Um Casamento (Marriage Story), de Noah Baumbach

O conceito de romantismo é antagônico à ideia ritualística de casamento tradicional. A história de amor termina quando é inserido na relação o contrato, psicologicamente, e, de forma inconsciente, vira outra coisa, algo tão artificial quanto os discursos e gestos memorizados para a cerimônia, logo, o término, algo nunca desejado, mas sempre uma possibilidade, acaba se tornando uma batalha fria, impessoal, um show dominado por advogados, um processo desumanizante que, por necessidade, força os clientes à utilização de táticas baixas. O material humano pouco importa, a compaixão é negada, os honorários falam mais alto.

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2 – Dor e Glória (Dolor y Gloria), de Pedro Almodóvar

Ao utilizar com emocionante sensibilidade as suas memórias, dores (físicas e psicológicas), arrependimentos e angústias, sem negar o característico bom humor, Almodóvar, perto de completar 70 anos, encanta seus fãs e converte os não-iniciados, entregando uma carta de amor às sinuosas curvas da vida e, principalmente, ao cinema.

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3 – Parasita (Gisaengchung), de Bong Joon-ho

Os finais felizes são ferramentas utilizadas em histórias infantis porque a mente dos pequenos não está preparada para lidar com as trepidações naturais da existência. Muitos adultos abraçam a mesma utopia confortável, mas Bong Joon-ho é incisivo, nós somos escravos da realidade em que vivemos. O único caminho lúcido e saudável é aceitar e fazer o melhor possível com aquilo que temos, em suma, tentar ser a melhor versão de nós mesmos. O resto é lorota, canto de sereia que ilude e te leva para o abismo.

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4 – O Irlandês (The Irishman), de Martin Scorsese

No crepúsculo da vida, os mais poderosos, aqueles que se consideravam deuses na Terra, que decidiam com tranquilidade os métodos utilizados na destruição de seus oponentes, acabam humilhados, esquecidos, a estratégia mais elaborada é fútil nota de rodapé no teatro patético da existência humana, o tempo apaga tudo, inclusive a mais ínfima possibilidade de redenção, já que não há viva alma para responder a voz enfraquecida que suplica por perdão.

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5 – A Mula (The Mule), de Clint Eastwood

É, acima de tudo, um desabafo audiovisual em tom testamental sobre a inversão de valores na sociedade, os diálogos defendem sua visão sociopolítica pessimista, especialmente no tocante à guerra contra as drogas, mas não resvalam no panfletarismo entediante, a precisão cirúrgica da edição mantém o ritmo instigante, com um senso de humor encantadoramente ranzinza emoldurando as situações absurdas em que o nonagenário acaba se metendo.

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6 – Assunto de Família (Manbiki Kazoku), de Hirokazu Koreeda

O leitmotiv do roteiro é recorrente na carreira do diretor, a complexa questão: O que faz uma família? O sangue nos torna parentes, mas a lealdade nos faz família. Há rara complexidade na discussão que propõe, já que insere o núcleo familiar em um terreno de ilegalidade, adultos e crianças que vivem em condições miseráveis e praticam furtos.

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7 – Coringa (Joker), de Todd Phillips

Joaquin Phoenix encara o desafio e realiza algo extraordinário, intensamente perturbador exatamente porque não há elemento facilitador, não há cicatrizes externas (apenas internas), não há queda em tonel de ácido, não há um evento único transformador que sirva de gatilho, a sua origem é complexa, as suas motivações são desconstruídas camada a camada, permitindo ao ator um terreno gigantesco de possibilidades que ele devora como se fosse o último papel de sua vida.

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8 – Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York), de Woody Allen

O charme está na leveza com que ele trabalha as situações nesta desconstrução do formato clássico da comédia romântica. A chuva em Nova York, material romântico que já serviu fartamente à compositores e escritores, símbolo da paixão, desta feita, com o auxílio sempre impecável da fotografia do grande Vittorio Storaro, funciona como pano de fundo de um dia caótico para um jovem casal.

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9 – Climax, de Gaspar Noé

O pesadelo que Noé cria é verdadeiramente insuportável, exatamente porque conta com a identificação imediata do público. E, toque brilhante que fica subentendido em revisão, não é o ambiente fechado que metaforicamente encapsula as frustrações projetadas nas drogas (pense na situação em que a única criança no local é colocada), a dor é apenas anestesiada, um fogo que o indivíduo tenta apagar com querosene pela negação da responsabilidade.

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10 – Meu Nome é Dolemite (Dolemite is My Name), de Craig Brewer

O ponto principal é a garra que impulsiona Rudy e sua exótica equipe, contra todas as probabilidades. Completar o filme se torna uma missão quase religiosa. Cada “não” que recebe abala sua resistência, faz lembrar a infância triste com seu pai agressivo, mas ele percebe que precisa se manter na luta também para proteger seus amigos, novos e antigos, por conseguinte, abraça de corpo e alma o personagem caricato que criou como artifício para driblar a insegurança nos palcos. Ele se reinventa e, neste processo, ressignifica a vida de todos à sua volta.



Viva você também este sonho...

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