Ninguém Sabe que Estou Aqui (Nadie sabe que estoy aquí – 2020)

Traumatizado, Memo (Jorge Garcia), um ex-cantor mirim, se afasta de tudo e todos, até que uma mulher oferece uma oportunidade para ele fazer as pazes com o passado.

O diretor chileno Gaspar Antillo, em seu primeiro longa-metragem, produzido por Pablo Larraín, entrega um tratado sensível e melancólico sobre os efeitos do bullying e da pressão da indústria artística em uma criança que não atende os padrões físicos, carregado nos ombros pelo competente Jorge Garcia, em seu primeiro trabalho como protagonista, conhecido popularmente pela participação na série “Lost”.

O início, antes mesmo do título aparecer na tela, propõe inteligente rima visual traçando um paralelo entre o entediado adulto isolado do mundo, bastante acima do peso, e sua doce versão infantil (vivida por Lukas Vergara), recebendo instruções de como se portar diante da câmera, em suma, evidenciando que ele fracassou e, por se sentir humilhado, decidiu se afastar da civilização. É interessante como, em diversos momentos, o design de som potencializa a sua respiração pesada, difícil, um corpo que, apesar da desesperança, luta para se manter vivo.

Ao inserir na trama, mais para frente, o motivo principal de sua tragédia pessoal, o espectador compreende porque o roteiro optou por um desenvolvimento intimista (logo, menos emotivo) do personagem, flertando eventualmente com o onírico, como no singelo momento em que a câmera, coerentemente distante (escondida dos olhos dele), registra sua dança no quarto solitário, que magicamente ganha cor e som na fotografia de Sergio Armstrong. Qualquer abordagem mais comercialmente atraente, sacarina, induziria o público à sentir pena de Memo, exatamente o sentimento que ele buscou evitar. Você é levado a respeitar o indivíduo que optou pelo silêncio, agregando camadas psicológicas relevantes quando a trama revela o que realmente aconteceu em seu passado.

A entrada da gentil Marta (Millaray Lobos) na rotina do rapaz injeta novo ritmo à obra, fascinada pela dor que se esconde por trás dos olhos afáveis, tão contrastantes naquela figura embrutecida, a mulher vai se esgueirando para dentro daquele universo misterioso, atitude que, ao mesmo tempo, desorienta e encanta Memo. Alicerçado na força de espírito dela, o potencial redentor é despertado em seu âmago, conduzindo à linda cena final, plena em terna simbologia (a utilização consciente da cor vermelha), permitindo ao espectador refletir e imaginar sua própria conclusão.

“Ninguém Sabe Que Estou Aqui” é uma estreia promissora, que ganha contornos preciosos em revisão.

Cotação: devotudoaocinema.com.br - Crítica de "Ninguém Sabe Que Estou Aqui", de Gaspar Antillo, na NETFLIX



Viva você também este sonho...

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