Críticas

“Lydia” (1941), de Julien Duvivier, com MERLE OBERON

Lydia (1941)

Uma mulher solteira mais velha, Lydia MacMillan (Merle Oberon), se reencontra com um antigo namorado, Michael (Joseph Cotten). Quando ele convida Lydia para tomar chá em sua casa, ela não tem ideia de que está prestes a se confrontar com seu passado.

Eu considero “Lydia” uma refilmagem (do próprio diretor) superior ao original “Um Carnê de Baile” (1937), que conheci 20 anos atrás por intermédio de uma indicação dos saudosos apresentadores Brancato Jr. e José Tavares de Barros no extinto programa “Cine Vida”, do canal católico “Rede Vida”. Alguns elementos desta refinada produção de Alexander Korda facilitam esta conclusão, como a linda trilha sonora do mestre húngaro Miklós Rózsa, a fotografia deslumbrante de Lee Garmes e a presença marcante de Merle Oberon.

É muito triste saber que estes nomes não significam nada para os mais jovens, já era difícil encontrar algum colega na minha fase adolescente que soubesse, hoje então, com o total desprezo pela memória cultural e a bestialização consciente da garotada, isto é praticamente impossível, infelizmente o rico legado artístico mundial será enterrado quando falecer o último guerreiro que se importa. O futuro, graças ao desinteresse da massa pelo autoaprimoramento intelectual/cultural constante, é uma tragédia anunciada.

A narrativa em flashback é executada de forma competente, algo raro, sem firulas visuais, potencializando o melodrama, confundindo por vezes o espectador, já que a narração se contradiz, representando o conflito interno da protagonista com o passado idealizado.

O contexto da produção não poderia ser mais conturbado, a segunda guerra destruía o espírito do povo, logo, o cinema tratou de transportar a massa para uma realidade mais leve, escapismo necessário. Korda, fã de Duvivier, garantiu total liberdade criativa. Marido de Oberon à época, ele enxergou na obra o veículo perfeito para a atriz exibir seu talento.

O diretor revisitou pontos importantes do filme original, como a memorável sequência do onírico baile, utilizando câmera lenta (algo experimentalista para o período), valorizada pela fotografia de Garmes, que consegue atravessar o verniz de sentimental conto de fadas, reforçado pelos diálogos rebuscados, e jogar luz no subtexto de culpa e amargura.

* O filme, nunca lançado em VHS ou DVD no Brasil, não está em plataformas de streaming, mas pode ser facilmente encontrado garimpando na internet.

Trilha sonora composta por Miklós Rózsa:

Lux Radio Theater – “Lydia”, com Merle Oberon:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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