Críticas

“Elegia de Osaka”, de Kenji Mizoguchi

Elegia de Osaka (Naniwa Ereji – 1936)

Osaka, anos 30. Uma jovem se torna amante do patrão para poder sustentar a família.

Excelente para ver numa dobradinha com “As Irmãs de Gion”, este foi o filme em que Mizoguchi sentiu que havia alcançado a maturidade profissional, o perfeito equilíbrio entre ideia e execução, amparado pelo roteiro de Yoshikata Yoda, o primeiro nesta longa parceria. Seu vasto currículo pré-1936, cinema mudo e falado, foi perdido, uma lástima saber que nunca iremos conhecer os passos iniciais desta jornada de amadurecimento.

Filmada em apenas vinte dias, a trama simples e, de certa forma, pessimista, ia de encontro ao momento ufanista dos japoneses, o que levou o projeto a ser banido das salas de exibição. A protagonista, vivida por Isuzu Yamada, sofre a pressão da sociedade e a rejeição da família ao aceitar envolvimento romântico com seu patrão, um homem casado e com ótima condição financeira, o que garantiria a ela a verba para resolver seus problemas.

O que a torna fascinante e engrandece a simbologia da sequência final é que ela não se coloca como vítima, Ayako tenta se adequar ao molde tradicional da mulher de sua época, mas percebe que as figuras masculinas ao seu redor são apáticas, o que a leva a buscar formas de sobreviver, agir ao invés de reagir, formas de manter seu espírito vivo em uma realidade que a presenteia com um código de conduta absurdamente rígido em sua submissão.

Numa analogia ao bunraku, teatro de bonecos em que cada “personagem” é manipulado por três titereiros, representado no filme em uma das cenas mais importantes, a protagonista manipula e é manipulada constantemente. Ao final, dúbio para alguns, mas que vejo com um significado bastante óbvio, a jovem caminhando na ponte, abandonada por sua família e pelo ex-namorado, reflete brevemente sobre as possibilidades em seu futuro.

A cena inicialmente insinua que ela cogita dar um fim à sua vida, mas, num belo gesto de coragem, o diretor entrega uma espécie de final feliz para sua heroína, totalmente livre pela primeira vez, no rosto a cristalização da altivez, caminhando com passos firmes na direção da câmera.

* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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